A Inerrância da Bíblia

Texto Áureo: "Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, nem um jota ou til se omitirá da lei sem que tudo seja cumprido (Mt 5.18)

Leitura Bíblica em Classe: Mateus 5.17;  Hebreus 10.15-17





O QUE É A INERRÂNCIA DA BÍBLIA

Antes de falarmos sobre inerrância bíblica, vamos deixar bem claro o que é inerrância. Assim como o termo cristianismo, o termo inerrância pode ser entendido de diferentes maneiras, o que faz necessário deixar bem claro sobre o que estamos falando aqui. De acordo com o dicionário, a palavra inerrância significa qualidade do que é inerrante, ou seja, não contêm erros, é confiável, infalível, fixo.

A inerrância bíblica defende que a Bíblia é livre de erros. No que tange à sua natureza, a Bíblia é de inspiração plenária, verbal e inerrante. Para os cristãos que defendem a inerrância bíblica, a Bíblia é a palavra de Deus e como Deus não pode mentir ou se enganar, logo a Bíblia é inerrante. Para um cristão a Bíblia é suficiente, clara, autoritativa, centrada em Cristo, com propósito soterológico (de salvação), de compreensão teológica, de caráter histórico, de forma canônica, tem valor moral e cognitivo, foi preservada durante os anos e é de extrema relevância para o mundo contemporâneo e para a vida pessoal. O cristão não deve assumir somente um ou outro atributo da bíblia apresentado acima, mas entender que todos são verdadeiros e decidir viver de acordo com essa verdade.

Não podemos mentir, alguns problemas podem surgir para quem acredita e defende que a Bíblia possui todos os atributos no parágrafo anterior. Isso ocorre porque a inerrância e a confiabilidade bíblica é alvo de ataques oriundos das mais diversas religiões e cosmovisões. O ateísmo, novo ateísmo (ou neo-ateismo), agnosticismo, islamismo, seitas cristãs até certas linhas teológicas insistem em atacar a inerrância bíblica. Isso era de se esperar, pois as crer nas escrituras é a base do teísmo cristão clássico. Convencer alguém de que a Bíblia contém erros e, portanto, não é confiável é uma porta aberta  para que essa pessoa negue as doutrinas bíblicas e, como um efeito dominó, essas pessoa pode vir a negar a divindade de Jesus e a existência de Deus, passando a considerar o cristianismo como apenas mais uma religião em meio às outras. Mesmo diante desse perigo iminente, os cristãos não devem se desesperar, pois temos como defender as escrituras com base nos recursos oferecidos pela doutrina da inerrância bíblica.

Em João 17:17 está registrada a oração de Jesus aos seus discípulos, na qual ele ora ao Pai dizendo: “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade”. Essa passagem faz referência a outras passagens registradas no antigo testamento, como 2 Sm 7 “Ó Soberano Senhor, tu és Deus! Tuas palavras são verdadeiras, e tu fizeste essa boa promessa a teu servo”. Dessa forma vemos que era entendimento comunidade entre o povo de Israel, Jesus e seus discípulos de que a palavra de Deus era a verdade. A forma como as escrituras eram reconhecidas pode também ser vista em 2 Tm 3:16, que nos diz o seguinte “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça, para que o homem de Deus seja apto e plenamente preparado para toda boa obra”. Sendo assim, os cristãos entendem que as escrituras são a Palavra oficial de Deus.

A doutrina da inerrância bíblica tem suas delimitações. Nós não assumimos que todos os manuscritos que existem e existiram são inerrantes. Na verdade, a doutrina da inerrância afirma que os manuscritos originais, ou seja, os autógrafos das escrituras sagradas foram inspirados por Deus de forma verbal e totalmente ausente de erros.  O teólogo americano Paul D. Feinberg definiu a inerrância mais formalmente como se segue: “as escrituras em seus autógrafos originais, sendo devidamente interpretadas, serão mostradas como totalmente verdadeiras em tudo o que afirmam, sejam suas afirmações relacionadas a doutrina ou moralidade, ciências sociais, físicas ou da vida.

Para o cristão, tudo que a Bíblia ensina ou afirma, sendo interpretado corretamente, é absolutamente verdadeiro. A Bíblia não ensina nada que seja falso ou errôneo, indiferente se esse ensinamento é sobre Deus, a natureza humana, com a ética, o mundo natural, a história ou qualquer outra coisa. O que aprendemos com a Bíblia não são apenas as opiniões subjetivas de um indivíduo ou comunidade, mas a verdade real e última sobre o assunto tratado.  Charles H. Spurgeon disse o seguinte ao escrever sobre a possibilidade de erros humanos e inspiração divina da bíblia:

O Espírito Santo não cometeu nenhum erro, seja na história, na física, na teologia ou em qualquer outra coisa. Deus é um cientista maior do que qualquer um daqueles que assumem esse título. Se o lado humano tinha contaminado as declarações menores, não poderíamos ter certeza da declaração maior. (…) Mas o lado humano não comunicou nenhum manchar qualquer coisa à Sagrada Escritura. Toda palavra de Deus é pura e segura, seja vista como o enunciado do homem ou como o pensamento de Deus. 

Os ensinamentos das sagradas escrituras não são e não podem ser confundidos. A razão, mais uma vez, é que Deus — que não pode errar — é o autor final das escrituras.

O SIGNIFICADO DA INERRÂNCIA

A inerrância significa que tudo que a Bíblia ensina e apresenta é verdadeiro, podendo incluir aproximações, citações livres, linguagem figurada e narrativas diferentes do mesmo evento desde que não se contradigam.

É claro que essa forma complexa de se transmitir a verdade cria diversas “aparentes” dificuldades, sem contudo, apresentar erros. Alguns exemplos são:

a)      1Co 10.8 diz que 23 mil morreram em um só dia e Nm 25.9 afirma que foram 24 mil, sem incluir a restrição “em um só dia”;

b)      Linguagem figurada como “nascer” e “pôr do Sol”. Apesar de não condizer com o que a ciência já descobriu, sãos expressões corretas da observação humana e linguagem corriqueira ainda hoje;

c)      Mc 10.46-52 e Lc 18.35-43 contam que Jesus curou um cego em Jericó, enquanto Mt 20.29-34 diz que eram dois cegos. Na verdade havia dois cegos, mas Marcos e Lucas contaram a história de um deles, Bartimeu.

O entendimento do tipo de linguagem usado e o propósito do autor devem ser levados em conta. Caso contrário, teremos dificuldades de conciliar textos como o de Mt 4.4, que diz que o homem deve viver das palavras que procedem da boca de Deus, em comparação com 2Tm 3.16, que diz que toda a Escritura é inspirada por Deus.

 A INERRÂNCIA NOS ENSINOS DE CRISTO

As evidências do ‘Antigo Testamento’ usadas por Cristo

a)      Jesus reconheceu que Adão e Eva eram pessoas reais, criadas por Deus, e agiram de maneiras específicas (Mt 19.3-5Mc 10.6-8);

b)      Creu serem verdadeiros os eventos envolvendo os dias de Noé (Mt 24.38-39; e Lc 17.26-27);

c)      Confirmou a destruição das cidades de Sodoma e Gomorra e a historicidade de Ló e da sua esposa (Mt 10.15Lc 17.28-29); e

d)      Aceitou como verdadeira a história de Jonas e o peixe (Mt 12.40) e a historicidade de Isaías (Mt 12.17), Elias (Mt 17.11-12), Daniel (Mt 24.15), Abel (Mt 23.35), Zacarias (Mt 23.35), Abiatar (Mc 2.26), Davi (Mt 22.45), Moisés e seus escritos (Mt 8.4Jo 5.46), Abraão, Isaque e Jacó (Mt 8.11Jo 8.39).

3) A evidência de ‘Mt 5.17-18’

O termo “a Lei e os profetas” envolvia todo o Antigo Testamento. Jesus disse que ele jamais passaria, sem que se cumprisse nem mesmo um “i” ou um “til” (ARA) ou a “menor letra” ou “traço” (NVI). Ao dizer isso, Jesus se referiu ao yod, a menor letra do alfabeto hebraico. Também se referiu ao que é chamado de “til” ou “traço”, que é um pequeno sinal gráfico que diferencia letras hebraicas muito parecidas como o beit e o kaf ou o dalet e o resh. Isso demonstra a confiança que Jesus tinha em cada palavra das Escrituras.

A evidência de ‘Jo 10.31-38’

Depois de afirmar sua divindade (Jo 10.30), os judeus se enfureceram e quiseram apedrejá-lo. Jesus os dissuadiu dessa ideia citando o Salmo 82, ao qual chamou de Lei. Disse que se aos homens foi atribuído o termo “deuses”, devido à alta posição a eles concedida, era correto que ele usasse o mesmo termo para si devido à unidade que tinha com o Pai. O interessante é que essa argumentação não se apoiou em livros ou capítulos da Bíblia, mas em uma palavra:  Elohim, que significa “Deus”.

Isso mostra, mais uma vez, que Jesus cria na inspiração de cada palavra, mesmo as que estão presentes em um salmo que não é nem famoso, nem fundamental no Antigo Testamento. Jesus, ao citá-lo, ainda afirmou que “a Escritura não pode falhar” (v.35).

 A evidência de ‘Mt 22.23-33’

Jesus expôs o erro dos saduceus de crer no Pentateuco, mas não nos anjos e na ressurreição. Acusou-os de errarem por não conhecerem nem as Escrituras, nem o poder de Deus (v.29). Jesus disse que a pergunta que fizeram era irrelevante, pois no céu seremos como “anjos”, os quais não se casam (v.30). Também citou o texto de Ex 3.6 para provar que há vida após a morte, mostrando que foi dito a Moisés que Deus era Deus de Abraão, Isaque e Jacó mesmo que eles tivessem morrido muitos anos antes.

 A evidência de ‘Mt 22.41-46’

Em primeiro lugar, Jesus disse que Davi falou “pelo Espírito” (v.43), demonstrando sua convicção na inspiração das mínimas palavras. Foi apoiado em uma mínima palavra que ele provou que o Messias não era apenas “filho de Davi”, mas também o “Deus de Davi”. Ele se apoiou na palavra “meu” (“disse o SENHOR ao meu Senhor”). A divindade de Jesus foi apoiada nessa pequena palavra, pois Jesus tinha convicção de que cada uma delas vinha de Deus.

PASSAGENS PROBLEMÁTICAS

Bíblia tem algumas dificuldades. Elas, na verdade, não constituem erros, mas “aparentes” discrepâncias que são solucionadas quando analisadas com cuidado. Também lembramos que cremos na inspiração da mesma forma que cremos na divindade: pela fé. Mesmo quando os homens tentam provar que Deus não existe, nossa fé fica inabalada. Do mesmo modo, diante de dificuldades na Bíblia nossa fé mantém nosso conceito sobre a inerrância, pois cremos que as Escrituras nos foram dadas por Deus (2Tm 3.162Pe 1.21).

1) As ‘duas narrativas’ da criação

Enquanto Gn 1.11-12 diz que as plantas foram criadas no terceiro dia, Gn 2.5 dá a entender que não havia plantas antes da criação do homem, o que só ocorreu no sexto dia. Na verdade, Gn 2.5 não fala de todo tipo de planta, mas das que precisam ser “lavradas” ou “cultivadas” pelo homem, de modo que Gn 2.5 é um complemento do que foi dito em Gn 1.11-12. Do mesmo modo, foi dito em Gn 1.27 que Deus criou “homem e mulher”, cujos eventos depois foram detalhados no relato de Gn 2.18-23.

2) A esposa de Caim

A pergunta é: se só existia a família de Adão, onde Caim encontrou sua esposa? A resposta está no texto de Gn 5.4 que diz que Adão gerou filhos e filhas. A esposa de Caim, assim como a de Sete, foi uma das suas irmãs. Tal casamento não gerou nenhum tipo de anomalia (como é arriscado acontecer hoje) porque os genes defeituosos que produzem esses tipos de mal não estavam presentes na criação de Deus.

Antes de ficarmos chocados com isso, devemos lembrar que esse tipo de casamento voltou a acontecer depois do dilúvio entre os netos de Noé, quando o casamento de parentesco mais distante possível era entre primos. O próprio Abraão se casou com sua “meio-irmã” (Gn 20.12). Só mais adiante Deus proibiu esse tipo de relação (Lv 18.6).

3) ‘Nm 25.9’

Moisés disse que a praga que seguiu a adoração de Israel a Baal-Peor matou 24 mil pessoas, enquanto Paulo diz que foram 23 mil (1Co 10.8). A diferença dos dois relatos está no fato de Paulo dizer que 23 mil morreram “em um só dia”. As outras mortes provavelmente ocorreram depois. Outra possibilidade que não afeta a inerrância seria o arredondamento por parte dos dois autores, assim como nós fazemos ao nos referirmos a uma viagem de 1.500 quilômetros, quando, na verdade, a distância correta era de 1.523 quilômetros.

4) Quem fez Davi contar os israelitas? (‘2Sm 24.1’; ‘1Cr 21.1’)

Um texto diz que foi Deus e outro diz que foi Satanás. Na verdade, Deus, soberanamente, usou Satanás para cumprir seu plano do mesmo modo que o fez para manter a humildade de Paulo por intermédio do “espinho na carne”, o qual Paulo chamou de “mensageiro de Satanás” (2Co 12.7).

5) Quem matou Golias? (‘2Sm 21.19’; ‘1Sm 17.50’)

Quem matou Golias foi Davi ou Elanã? Nesse caso, o problema é de cópia. Comparando com 1Cr 20.5, percebemos que o copista errou ao copiar 2Sm 21.19, cuja provável mensagem seria: “E Elanã, filho de Jair (ou Jaaré-tecelão), feliu a Lami, irmão de Golias”.

6) Certos números apresentados em ‘2Sm 24’ e ‘1Cr 21’

a)      O texto de 2Sm 24.9 registra 800 mil em Israel e 500 mil em Judá, enquanto 1Cr 21.5 apresenta 1,1 milhão em Israel e 470 mil em Judá. No registro de 2Sm 24, o número não inclui o exército permanente de 288 mil (1Cr 27.1-15), nem os 12 mil especificamente destacados para Jerusalém (2Cr 1.14), que, somados aos 800 mil, dá exatos 1,1 milhão. Já os 470 mil de 1Cr 21 não incluem os 30 mil do exército permanente de Judá (2Sm 6.1);

b)      O de castigo pela contagem é de 7 anos em 2Sm 24.13 e de 3 anos em 1Cr 21.12. Esse é mais um erro de cópia. Isso se deve à semelhança entre as letras hebraicas usadas para grafar os números 3 e 7. O correto é que eram 3 anos e, por causa disso, a versão NVI traduz 1Cr 21 desse modo.

7) As medidas de ‘2Cr 4.2’

As medidas do mar de fundição não batem, pois diz que o diâmetro dele era de 450 cm. Porém, quando diz que a circunferência era de 13,5 m, percebemos que essa não é a circunferência de um círculo cujo diâmetro mede 450 cm, mas sim, 430 cm. Há uma discrepância de 20 cm. Entretanto, o v. 5 desfaz essa impressão ao dizer que a espessura da borda era de 10 cm. Ou seja, o mar de bronze de circunferência interna de 13,5 m, cujo diâmetro era de 430 cm, tinha de diâmetro “total”, incluindo 20 cm da espessura das duas bordas externas, exatos 450 cm.

8) Levar o bordão (‘Mc 6.8; Lc 9.3’)

Jesus permitiu ou não levar o cajado? Na verdade, Jesus permitiu que os discípulos levassem um cajado que possuíssem. Contudo, caso não tivessem, não deveriam levar um na viagem. Chegamos a essa conclusão ao observar Mt 10.9-10, que diz que tais coisas não deveriam ser “adquiridas” para a viagem, não que não pudessem ser usadas. É o caso de não poder levar duas sandálias, podendo, contudo, levar uma: a que ia no pé. A intenção de Jesus era que os discípulos “não fizessem provisão especial para essa missão”.

9) A semente de mostarda (‘Mt 13.32’)

Jesus disse que a semente de mostarda era a menor das sementes. Porém, sabe-se que há sementes menores. Mas, quando Jesus falou isso, disse que era a semente “que um homem plantou no seu campo”. Fica claro que Jesus apelou para a experiência dos judeus, que, das espécies cultivadas, tinha a mostarda como o exemplar de menor semente.

10) Os cegos de Jericó (‘Mt 20.29-34’; ‘Mc 10.46-52’; ‘Lc 18.35-43’)

Eram um ou dois cegos? Como já vimos, eram dois e Mateus está certo em sua afirmação. Porém, Lucas e Marcos se concentraram em um só deles. O motivo disso é que, provavelmente, ele era muito conhecido e isso justifica eles terem citado seu nome: Barjesus.

11) O pai de Zacarias (‘Mt 23.35’)

Zacarias era filho de Beraquias (Zc 1.1) ou de Joiada (2Cr 24.20)? Na verdade, esses dois Zacarias são pessoas diferentes. O Zacarias de 2Cr 24.20-21 viveu antes do cativeiro babilônico e foi apedrejado. O outro Zacarias é o profeta autor do livro que leva seu nome. Ele viveu no período posterior ao exílio e era filho de um homem chamado Beraquias. Apesar de as Escrituras não falarem que ele foi martirizado, esse é a quem, provavelmente, Jesus se referiu, citando corretamente o nome do seu pai e usando um profeta dos tempos do encerramento do AT, traçando uma linha do início ao fim da história registrada no AT ao dizer “de Abel a Zacarias”.

12) Zacarias ‘versus’ Jeremias (‘Mt 27.9-10’)

Mateus cita Jeremias a respeito de um texto que encontramos em Zc 11.12-13. Esse pode, tanto ser um erro de cópia, como um modo de os judeus pós-exílio se referirem às EscriturasJeremias é o primeiro livro do Talmude Babilônico e o profeta era proeminente na mente dos judeus dos tempos de Jesus (Mt 16.14). Assim, Mateus pode ter se referido às Escrituras citando Jeremias, além de ter em mente os eventos relacionados à casa do oleiro registrados em Jr 18 e 19.

13) Isaías ‘versus’ Malaquias (‘Mc 1.2-3’)

Marcos cita um texto de Malaquias dizendo ser de Isaías. Provavelmente, Marcos usa Isaías com a intenção de associá-lo não àquele texto em particular, mas ao assunto como um todo que era a pessoa de Cristo, a quem ele acabara de mencionar. Nesse caso, o profeta Isaías é notável, pois fala muito do Messias, principalmente em Is 53, texto esse conhecido como “o servo sofredor”. Devemos lembrar que a óptica sob a qual Marcos apresenta Jesus em seu Evangelho é a de Jesus como “servo”.

14) Abiatar ‘versus’ Aimeleque (‘Mc 2.26’)

Marcos diz que Davi comeu os pães da proposição nos dias de Abiatar, mas 1Sm 21.1-6 diz que o sumo sacerdote era Aimeleque, pai de Abiatar (1Sm 22.20). Contudo, Jesus não se referiu a Abiatar como sendo o sumo sacerdote, mas disse “nos dias de Abiatar”. Na sequência do relato histórico, Saul mandou matar Aimeleque e os seus, mas Abiatar conseguiu sobreviver, tornando-se sumo sacerdote durante todo o reinado de Davi, sendo deposto apenas no início do reinado de Salomão (1Rs 2.27). Assim, o fato histórico em questão realmente aconteceu “nos dias de Abiatar” e não necessariamente enquanto ele exercia o sumo sacerdócio.

15) A morte de Judas

At 1.8 diz que Judas “precipitou-se, rompendo-se pelo meio, e todas as suas entranhas se derramaram”, enquanto Mt 27.5 diz que ele “foi enforcar-se”. Os dois relatos se completam. Judas tentou se enforcar e, devido a algum imprevisto como a ruptura da corda ou do galho, ele caiu de um lugar alto, o que causou os danos citados em At 1.8.

16) Problemas em ‘At 7’

Atos 7 apresenta um discurso de Estevão ao Sinédrio que apresenta algumas dificuldades. Nesse caso, mesmo que Estevão tivesse errado, Lucas registrou corretamente suas palavras. Contudo, as dificuldades apresentadas no discurso de Estevão não precisam necessariamente estar erradas.

Em At 7.6, Estevão diz que o cativeiro durou 400 anos (assim como Gn 15.13), enquanto Ex 12.40 menciona 430 anos. Se observarmos bem, o texto de Ex 12.40 diz que o povo “habitou” no Egito por 430 anos. Estevão, por sua vez, falou que a “escravidão” durou 400 anos.

Outro problema está em At 7.14 onde Estevão diz que a família de Jacó tinha 75 pessoas, enquanto Gn 46.27 diz que eram 70. Estevão deve ter se referido ao texto da Septuaginta, o qual registra, em Ex 1.5, o número de 75 pessoas, o que inclui o filho e o neto de Manassés e dois filhos e um neto de Efraim.

 

FONTES DE PESQUISA

https://estufaapologetica.com.br/2019/03/27/o-que-e-inerrancia-biblica/

www.igrejaredencao.org.br


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