Lição 01 - A Ética dos Dez Mandamentos


"Ora, o fim do mandamento é o amor  de um coração puro, e de uma boa consciência, e de uma fé não fingida" - I Timóteo 1.5


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 A ÉTICA CRISTÃ E OS DEZ MANDAMENTOS


“O mundo muda muito rápido!”, “a juventude agora é outra!”, “hoje, isso tudo é normal!”, “o homem de hoje não é igual ao homem de outros tempos!”. Esses são exemplos de frases que normalmente iniciam ou encerram discussões a respeito de valores, vida e relacionamentos na sociedade atual.  Quando se fala em sociedade e humanidade, geralmente, se associa a evolução dos meios de comunicação e os avanços científicos a uma suposta evolução e mudança na forma como o homem vê o mundo e como, na atualidade, os relacionamentos são sustentados. Diz-se, até, que “o homem evoluiu muito”, mesmo que a contradição seja exposta todos os dias nos jornais e nas ruas de muitas cidades do mundo.   Nas avaliações e discussões a respeito da Bíblia e dos ensinos da Palavra de Deus nota-se muita parcialidade e superficialidade, principalmente, quando as pessoas declaram-se não religiosas ou agnósticas. Elas entendem que a sociedade, a cultura e o mundo contemporâneo não suportam valores, segundo eles, ultrapassados e retrógrados que estão contidos no Texto Sagrado. As frases citadas nos parágrafos anteriores são tomadas como pressupostos válidos nas conversas ou apontamentos sobre a vida na ótica da ética cristã. O que dizer, então, dos Dez Mandamentos? A discussão de validade dos Dez Mandamentos ocorre de duas formas. Para aqueles que não creem ou se declaram não religiosos, a validade do que está escrito é centrada na mutabilidade do destinatário e em como os princípios e valores contidos nos Dez Mandamentos podem ser aplicados. Segundo essas pessoas, se o destinatário, o homem, muda, portanto, a verdade deve mudar junto.  Para aqueles que se dizem cristãos, em geral, a validade dos princípios e valores tem dependido da conveniência para a vida atual. O que se tem visto é uma insistente tentativa de adaptar o que está escrito à vida cristã da atualidade, mesmo que isso possa significar alterar o que está escrito. Assim, em alguns casos, contraria-se de forma explícita a imutabilidade apontada pelo Senhor Jesus Cristo, no texto do Evangelho de Mateus: “Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, nem um jota ou um til se omitirá da lei, sem que tudo seja cumprido.” (Mateus 5:18) Fica claro que para Nosso Senhor Jesus Cristo: a lei de Deus é um todo unificado . A menor letra hebraica, o “iota”, ou “yode”, em hebraico, será mantida, “até que o céu e a terra passem”. Há quem interprete que os céus e a terra do antigo pacto já passaram. Entretanto, Jesus “é o mesmo ontem, hoje e eternamente” (Hebreus 13:8) e diz que no “reino do céu, serão grandes aqueles que guardarem ou mantiverem todos” os mandamentos, mesmo o “menor”. Essa é uma observação importante à todos nós cristãos.  Neste ponto, há que se destacar que o Decálogo, na visão bíblica, notadamente, nos ensinos de Jesus, constitui-se em um código de ética , um código moral, apresentando uma norma de conduta para a vida entre os homens e para o relacionamento com o Autor, que é Deus. Desse modo, estão presentes os pressupostos de validade e imutabilidade desse código moral, tendo sua fundamentação na imutabilidade do Autor .  

 A ÉTICA (MORAL) CRISTÃ E ÉTICA SECULAR:  DIFERENÇAS FUNDAMENTAIS 

A palavra ethos, no Novo Testamento, tem o significado de conduta, estilo de vida, costumes ou prática e aparece 12 vezes no Novo Testamento. Segundo o escritor Hans Reifler, a ética cristã recebeu vários nomes ao longo da história, sendo um deles, Moral . É neste ponto que é reforçado o entendimento de que toda a Lei de Deus tem cunho moral, mesmo as ditas leis cerimoniais. O que ocorre com essas últimas é que depois do sacrifício e ressurreição de Cristo elas deixam de ter significado, pois foi feita a consumação do que elas apontavam.  Um paralelo entre os conceitos de ética cristã e ética secular é importante para se entender a aplicabilidade dos Dez Mandamentos na atualidade. De um lado, tem-se a ética secular como uma disciplina filosófica e de estudo dos costumes e hábitos. Evidencia-se como uma busca pela verdade e o bem da sociedade, de acordo com os conceitos de cada época.  A ética cristã, por seu turno, não é uma mera ciência de busca do bem e da verdade por meio da razão, apenas, e guiada de acordo com os tempos e costumes, dentro de uma mutabilidade dos relacionamentos da sociedade, como a ética secular. A ética ou moral cristã trata da relação do homem com Deus e seus mandamentos, que leva cativa a consciência do homem à obediência de Cristo conforme está escrito em 2Coríntios 10:5 . Na ética cristã, o homem não é levado por qualquer vento de doutrina ou fábulas construídas por homens, conforme exortação em Efésios 4:14. Tendo a sua aplicabilidade nos relacionamentos entre os irmãos, nos relacionamentos familiares e com as demais pessoas, de acordo com o ensino da carta aos Efésios, nos capítulos 4,5 e 6, por exemplo. Ressalte-se que toda a Bíblia é orientadora dos relacionamentos humanos. Vejamos um quadro comparativo entre a Ética Secular e a Ética Cristã . 

ÉTICA SECULAR                        ÉTICA CRISTÃ

 Ciência de Costumes e hábitos     Revelação da vontade divina
Descritiva                                           Normativa 
Relativa                                              Absoluta 
Imanente                                           Transcendente 
Situacionista                                     Diretiva 
Subjetiva                                           Objetiva 
 Mutável                                            Imutável               

Nota-se que ambas apontas caminhos opostos e obviamente levam a resultados diferentes. No geral a Ética Secular é variável e relativa, por isso seus resultados são incertos. Já a Ética Cristã, baseada na moralidade divina, é absoluta, porquanto seus resultados são definidos e invariáveis. 

FUNDAMENTO MORAL PARA ISRAEL E PARA A IGREJA 

 No geral, quando se pensa nos Dez Mandamentos, prontamente, vincula-se a um tempo passado e que sua aplicabilidade restringiu-se ao povo que o recebeu. Do mesmo modo, costuma-se dizer que o Decálogo foi abolido ou é apenas uma lista de princípios, e que nem todos se aplicam à vida atual. Outra argumentação é de que o mesmo não se aplica ao cristianismo do tempo da graça.  De fato, o destinatário imediato dos Dez Mandamentos foi Israel. A Lei Moral foi dada ao povo hebreu para que fosse o fundamento moral do relacionamento entre o povo e Deus, conforme se pode observar tanto no livro de Êxodo quanto em Deuteronômio. (Êx 20; Deuteronômio 5)  Entretanto, não devemos deixar de observar que no Texto Sagrado a Igreja também é receptora das Escrituras, toda ela, tanto o Novo quanto o Antigo Testamento. A Igreja é alvo do plano da salvação, participante da aliança com Deus em Cristo. Como cristãos, fazemos parte do povo unificado (enxertado) de Deus, conforme escreve o apóstolo Paulo na carta aos Efésios (2:12) . Em todo o Novo Testamento, os crentes em Cristo são instruídos nos ensinos e mandamentos contidos no Antigo Testamento. Os aprofundamentos dos sentidos morais dos mandamentos estão explícitos no Sermão do Monte. Aquele que ouve e guarda as palavras, obedecendo aos Mandamentos, certamente ama a Cristo e será morada do Pai, do Filho e do Espírito Santo, conforme declara o nosso Senhor Jesus nos capítulos 14 a 17 do Evangelho de João. Ainda nesse sentido, os que são nascidos de novo são chamados de nação santa, raça eleita e povo de Deus, portanto (1 Pedro 2:9). O Nosso Senhor Jesus Cristo, ao falar com o jovem rico, declara explicitamente a necessidade de se obedecer a Lei Moral, citando, inclusive, Deuteronômio 4:1. Do mesmo modo, no Sermão do Monte, Jesus é claro ao dizer que nenhum dos Mandamentos está cancelado e, além disso, aprofunda as exigências morais contidas neles. Assim, não há como dizer que o Decálogo não se aplica à Igreja.  Na passagem bíblica do nosso texto básico, é dito que Jesus não veio anular ou cancelar a lei, mas cumprir. O cumprimento da lei não é sua abolição ou isenção para a Igreja por causa da graça. Pelo contrário é modelo de obediência e modo de viver para todo cristão. Do mesmo modo, ao comissionar os discípulos para que pregassem o Evangelho e fizessem discípulos, ensinando-os a guardar tudo o que tinha sido ensinado a eles (Mateus 28:18-20), o Mestre deixa como mandamento o ensino e a guarda de tudo que tinha sido ensinado. Promete, ainda, que estaria com eles até a consumação dos séculos. Nas palavras de Spurgeon: Não existe nem anulação nem emenda. Não deve ser abrandada ou ajustada a nossa condição decaída, mas cada um dos justos juízos do Senhor permanece para sempre. Ressalto três razões que irão alicerçar este ensino. Em primeiro lugar, nosso Senhor Jesus declara que não veio para abolir a lei. Suas palavras são totalmente pontuais: “Não penseis que vim revogar a lei ou os profetas: não vim para revogar, vim para cumprir”. E Paulo nos afirma com respeito ao Evangelho: “Anulamos, pois, a lei pela fé? De maneira nenhuma: Antes, confirmamos a lei.” (Romanos 3:31) O Evangelho é o meio para o firme estabelecimento e vindicação da Lei de Deus. Jesus não veio para mudar a lei, mas para explicá-la, e este mero fato mostra que ela permanece, porque não é necessário explicar algo que está anulado . Assim, é obrigatório concluir que os Dez Mandamentos são válidos para todo o povo de Deus e, também, para a Igreja primitiva  e de todas as épocas.   

 FUNDAMENTOS MORAIS PARA A HUMANIDADE  COMO EXPRESSÃO CLARA DO BEM 

Como já discorrido anteriormente, sabemos que Deus escolheu um povo para entregar seus Mandamentos. O motivo para isso é que, através de Israel, o Senhor ensinaria todas as nações o seu santo conhecimento e revelaria sua graça a todos os homens, como vemos: “Guardai-vos, pois, e cumpri-os, porque será a vossa sabedoria e o vosso entendimento perante os olhos dos povos que, ouvindo todos estes estatutos, dirão: Certamente este grande povo é gente sábia e entendida” (Deuteronômio 4:6 grifo nosso). O comprometimento do povo de Deus serviria como parâmetro, modelo para os outros povos. A conduta, os costumes, a obediência, a sabedoria e a moral do povo deveria ser observada, admirada e seguida. No livro de Eclesiastes encontramos um texto muito pertinente ao tema em pauta: “De tudo o que se tem ouvido, a suma é: Teme a Deus, e guarda os seus mandamentos; porque isso é dever de todo homem” (12:13 grifo nosso). Nesta passagem, o autor está escrevendo para todo e qualquer homem. Não há uma indicação que esse texto fosse exclusivo para o povo hebreu. Salomão, ao escrever, é claro: Todo homem tem escrito em seu coração o que é certo e o que é errado. A consciência de bem e de mal é dada a todos. Isso está posto pelo apóstolo Paulo na sua carta aos Romanos no capítulo 2. A validade moral dos mandamentos, dos valores e princípios de bem e justiça para o homem são dadas por Deus, conforme reconhece o apóstolo.  Por isso, não há ninguém livre de culpa, mesmo que não tenha conhecimento das Escrituras. A ética e a moral dadas por Deus é escrita nos corações. Ainda no sentido de apontar que os mandamentos são para a humanidade e não apenas para o povo hebreu, depois para os judeus e para a Igreja, tem-se a passagem em que o Senhor Jesus explica para quem são direcionados os mandamentos, apontando para quem foi feito o Sábado: “E disse-lhes: O sábado foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do sábado”.(Marcos 2:7 grifo nosso) A palavra grega usada para “homem” é antrophos, que significa homem ou humanidade, em sentido amplo . Não está dito que o Sábado foi feito para a Igreja, ou para os judeus, mas para a humanidade.  Assim, está explícito que os Dez Mandamentos não são recomendados, apenas, para a Igreja ou para os judeus, mas devem alicerçar todos os relacionamentos humanos, como no casamento, na família, nos negócios, nos tribunais de justiças e em todas as instituições. Os Dez Mandamentos devem ser o parâmetro para a sociedade secular tão carente de direção e valores . 
 Na atualidade, a sociedade é pluralista e materialista. Luta em negar os valores bíblicos. A secularização da sociedade moderna ameaça tornar inúteis a Igreja e seus valores, dizendo-os fora do contexto e ultrapassados. Entretanto, o que mais se vê é um mundo sem direção, perdido em conceitos e princípios contraditórios, falando em ética, esquecendo-se de seu sinônimo que é a moral.  Diz-se que o homem tem evoluído com a ciência e a tecnologia, porém deixa-se de levar em conta a ganância, a violência, a desonra aos pais e à família. Ignora-se a mentira, a idolatria do eu e dos bens materiais, acreditando possuir um suposto saber científico, cultural, sociológico e filosófico. O Culto ao homem se estabeleceu, afirmando o humanismo secular. O homem se diz senhor do seu destino, autônomo e conhecedor do bem e do mal (Gênesis 2:5). Nesse contexto de escuridão moral, é que se afirma a necessidade e a aplicabilidade dos princípios, dos valores e da moral contidos nos Dez Mandamentos. O homem contemporâneo ainda padece dos mesmos males que os de três mil anos atrás. Esse homem contemporâneo ainda necessita de justiça, verdade, amor, esperança, de vida e de salvação.


A ÉTICA DA LEI


Antes de tudo, é necessário termos uma coisa em mente: a lei de Deus, os Seus dez mandamentos são divididos em duas tábuas. A primeira diz respeito ao relacionamento do homem com Deus; a segunda nos guia no nosso relacionamento com o próximo. Como os cristãos devem se portar na sua vida diária? O que fazer com as escolhas morais? Como fazê-las e baseada em quê será nossa decisão? Essas são perguntas que, de forma geral, tentaremos responder ao longo do texto. Como os dez mandamentos são bastante extensos e grandemente profundos, não será possível esgotar, de maneira nenhuma, este assunto aqui neste ensaio. A minha intenção, então, será analisarmos a importância deste tema para o cristão, assim como observarmos o mandamento “Não terás outros deuses diante de mim.”


A lei é o reflexo da santidade de Deus, da sua perfeição. Através dela podemos ver o que Deus é, e o que nós somos. Aquele (o decálogo) é o padrão pelo qual o caráter de Deus é composto, e pelo qual o nosso é julgado. Nessas dez regras temos conceitos simples, mas abrangentes. Pequenos, mas complexos. Devemos nos achegar à revelação divina da Sua vontade para o nosso dia a dia de forma humilde, sabendo que nada somos e que Deus nos revelará o que lhe apraz nos momentos certos. Podemos ler dez, vinte ou até trinta vezes o decálogo, mas nunca ele será esgotado. O próprio Cristo, no sermão do monte, desenvolve os dez mandamentos e aplica-os ao povo e a nós, através das Escrituras. Devemos então nos curvar de forma humilde, reconhecendo a grandiosidade e santidade do nosso Senhor descrita no Decálogo.


Tiago Santos coloca sabiamente a definição da palavra “ética cristã”, ele diz: “é o 'modus vivendus' do povo de Deus.” Ou seja, o modo pelo qual o povo de Deus deve se guiar. Salmo 119:105 afirma que a palavra de Deus é lâmpada para os pés e luz para o caminho. Precisamos entender que é extremamente necessário e de tamanha importância que o cristão saiba como viver. A primeira pergunta do Catecismo Maior de Westminster diz: “Qual o fim supremo e principal do homem?” imediatamente ele responde: “O fim supremo e principal do homem é glorificar a Deus e alegrar-se nele para sempre [Rm 11:36; 1Co 10:31; Sl 73:24-26; Jo 17:22-24].” A pergunta é: como viveremos para glorificar e alegrar-se em Deus? Observando a Sua Santa Palavra e vivendo de acordo com a Sua Santa vontade [o modus vivendus do homem].


Podemos também observar o texto de Romanos 12:2, que diz: “E não vos conformeis a este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus.” Como cristãos, devemos não apenas fazer o correto, mas pensar correto. Não devemos nos moldar ao modelo deste mundo, e muito menos às regras morais deste mundo. Pelo contrário, não podemos nos deixar ser influenciados e nem nos conformar com este mundo, mas devemos renovar nossa mente, dia após dia, para que possamos viver de modo bom, agradável e perfeito, de acordo com a vontade de Deus. Esse é objetivo do homem!


Outro fator importante que devemos saber é que o cumprimento do decálogo não salva, pelo contrário; ele condena! Ele nos mostra quem somos. Essa é uma diferença central do cristianismo bíblico para as outras religiões. A maioria, senão todas as outras religiões, são movidas por boas obras. As pessoas, para alcançarem o “céu” precisam fazer boas obras e etc. Esse é o pensamento que gira no mundo a respeito do homem. Porém, isso não é o que as Escrituras falam. O homem é impuro, corrupto, miserável, condenado, pecador, manchado, depravado, e tudo mais. Por isso, ele não tem a capacidade de cumprir todo o mandamento do Senhor. O cristão não cumpre a lei de Deus para ser salvo, mas por amor! [João 14:23] O que nos move e capacita a cumprir a lei de Deus é o Santo Espírito. Ele, apenas Ele, pode nos capacitar a fazê-lo.


FONTE DE PESQUISA

https://pib7joinville.com.br/estudos/entendendo-e-vivendo/3099-a-contemporaneidade-dos-dez-mandamentos.html


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