Galera de Cristo 06 - A vida e O Ministério de Jesus
"Jesus ia crescendo em sabedoria, estatura e graça diante de Deus e dos homens" -
Lucas 2,52
Jesus
foi e é o maior líder de todos os tempos. Nunca houve alguém com vocação tão
suprema, ministério tão eficaz, liderança tão exemplar e legado mais duradouro.
Como líder, ele tinha uma clara consciência de sua pessoa, da sua missão e do
seu dever de formar discípulos que continuassem sua obra. Em seu estado de
humilhação Jesus aprendeu a depender do Pai em tudo e todas as suas escolhas
ministeriais, desde o chamado aos discípulos até seu triunfo na cruz, foram
feitas em oração e submissão.
O presente estudo aborda o ministério de Jesus como
o modelo supremo de liderança a ser imitado, analisando algumas características
marcantes que devem ser seguidas por todo líder cristão, como sua consciência
da missão, seu pastoreio sacrificial, seu amor abnegado e o seu exemplo humilde
que moldou a vida e o caráter dos discípulos. Todos são chamados a amar, servir
e liderar como ele, formando outros discípulos para que a obra de Deus continue
se expandindo até a consumação.
I. JESUS, O LÍDER SINGULAR
Jesus
foi um líder completo, diferentemente de todos os outros líderes humanos. O
caráter singular da sua pessoa como Deus e homem proporcionou uma perfeição a suas
ações, palavras e escolhas que nunca poderão ser plenamente imitadas por nenhum
homem ou líder. Ninguém pode perguntar aos demais como ele perguntou: “Quem
dentre vós me convence de pecado?” (Jo 8.46).
Jesus foi único porque sua pessoa é única. Ele é o
verdadeiro Deus que se fez carne e veio ao mundo com o propósito de salvar
pecadores (Jo 1.1-5,11-14). Ao mesmo tempo, é o servo de Deus que renunciou sua
glória nascendo como perfeito homem para dessa forma identificar-se com seu
povo e salvá-lo da condenação eterna (cf. Jo 15.13).
A singularidade e perfeição da pessoa e obra de
Cristo responde por sua perfeita consciência de si mesmo, de sua missão e das
suas ovelhas, coisa que os demais líderes não possuem. Ainda assim, o fato de
ele ter sido apontado por Deus como Supremo Pastor e exemplo indica a todo
líder cristão que seu dever é seguir os passos do Mestre (1Pe 2.21-22).
A. Consciência de si mesmo
Jesus
tinha uma perfeita consciência de quem era. Ele sabia que era perfeito Deus e
perfeito homem. Um dos mais importantes títulos encontrados no NT para Jesus é
“Filho de Deus” (Mt 11.25- 27; 16.17). Repetidas vezes ele fala de Deus como
seu Pai, mostrando que tinha consciência da sua divina filiação. No seu batismo
e transfiguração, o próprio Pai testemunhou que Jesus era o seu preexistente
filho (Mc 1.1,11; 9.7). Por outro lado, ele nasceu e cresceu como um perfeito
homem, sabendo que era o segundo Adão, o descendente real de Davi, o servo
sofredor prometido, o messias e “Filho do Homem” que reinaria para sempre.
Essa consciência de Jesus quanto à sua dupla
natureza em uma só pessoa é afirmada constantemente no NT. Jesus se define pelo
menos 18 vezes com a expressão “Eu Sou”, que apontava para o caráter divino de
sua pessoa e missão (Jo 6.35; 8.12,23-24,58; 10.9; 11.25). Porém, em diversas
ocasiões, Jesus fez também referência à sua natureza humana (Jo 2.25; 11.35;
12.33). Sua encarnação proporcionou um conhecimento prático do que era a
natureza humana com todas as suas limitações. Embora tivesse nascido sem
pecado, seu corpo carregava as marcas da fragilidade impostas pela queda, como
o sofrimento e a morte.
Esse é um ponto importante para os líderes atuais
porque a primeira coisa que um líder precisa ter é uma clara consciência de si.
Obviamente, não existem líderes divinos ou perfeitos, porém conhecer a si mesmo
é fundamental para um ministério eficaz. Por isso, é necessário buscar um
conhecimento profundo de Deus e de sua Palavra, pois tal conhecimento produzirá
algo vital no ministério, a humildade.
B. Compreensão de sua missão
Jesus
sabia perfeitamente por que veio ao mundo. Ele fala de si mesmo como tendo
“vindo” ou sido “enviado” por Deus (Mc 1.38; 10.45; Lc 12.49,51). Ele possuía
um completo conhecimento de cada momento e estágio do seu ministério. Essa
consciência se devia tanto ao relacionamento eterno com o Pai, quando recebeu
sua missão como aos próprios textos proféticos que falavam em detalhes dessa
missão. (Veja por exemplo: Jo 16.28; Lc 19.10; Jo 4.34; 10.11; Lc 9.22).
O ministério de Jesus possuía um caráter paradoxal,
pois ele tanto sabia da origem divina de sua pessoa, como agiu como um servo
sofredor para cumprir a missão dada pelo Pai (Is 53.1-12). Hoje, nenhum líder é
capaz de ter uma visão completa da sua missão com respeito a cada estágio de
sua vida ministerial como Jesus teve. Contudo, ainda assim é de suma
importância para os líderes compreenderem por que foram chamados por Deus e
qual é a natureza da sua missão. Os exemplos dos apóstolos e de Paulo mostram
que líderes eficazes são aqueles que sabem o propósito de sua missão e mantêm o
foco no que é prioritário (At6.1-7; 20.24).
C. Conhecimento de suas ovelhas
A
metáfora predileta de Jesus para retratar seu relacionamento com seu povo foi a
ilustração do pastor e da ovelha. O Antigo Testamento estava repleto de alusões
a Deus como o pastor de Israel (Is 40.10-11; Sl 23.1). Além disso, o conceito
de pastorear tornou-se uma importante imagem explicativa usada para retratar a
liderança espiritual em Israel. Assim, reis, profetas e sacerdotes eram
chamados de pastores (Jr 23.1-4; Ez 34; Zc 11).
Essa metáfora não foi usada pelo Senhor Jesus por
acaso, uma vez que era uma clara alusão ao pastor ferido, conforme profetizado
por Zacarias, como também uma imagem cultural fácil de ser entendida pelos
ouvintes (Zc 13.7-9). Assim, Jesus se descreve como o bom pastor, cuja obra
consistia em dar a vida pelas ovelhas (Jo 10.11). O conceito de ovelhas era
importante porque mostrava que somente um grupo de pessoas creria na mensagem
de Jesus (Jo 10.26-27).
Ao usar essa metáfora, Jesus demonstra ter um
conhecimento perfeito das suas ovelhas. Ele sabia quem entre os seus discípulos
e ouvintes eram crentes verdadeiros e algumas vezes se referiu a pessoas como não
fazendo parte do seu aprisco. De fato, Jesus nunca foi surpreendido por falsas
ovelhas e sempre deixou claro que sua missão consistia em juntar apenas aquelas
que o Pai lhe dera (Jo 6.37-44; 10.25-29; 13.18).
Esse conhecimento perfeito do rebanho nenhum líder
hoje tem, embora seja seu dever pastorear o rebanho conhecendo as ovelhas e
cuidando de cada uma delas. Na igreja visível é possível apenas observar os
frutos e as marcas da graça na vida de alguém e presumir que tal pessoa seja
uma ovelha do Senhor. Contudo, enganos podem acontecer e muitos bodes podem
estar no meio do rebanho ou mesmo da liderança. É tarefa dos líderes estar
atentos para pastorear as ovelhas do Senhor e ter cuidado com os lobos vestidos
de cordeiro.
II. JESUS, O LÍDER A SER IMITADO
O
ministério de Jesus consistia em pregar e ensinar as boas-novas do reino (Mt
4.23), instruindo aqueles que respondiam afirmativamente à sua proclamação a
terem uma atitude de total submissão à sua própria pessoa e ensino, por ser ele
o Messias, Rei e Salvador. A nova vida ideal dos crentes consistia em viver
como cidadãos do reino, reconhecendo que o rei veio e que suas exigências eram
graciosas e revestidas de autoridade, exigindo uma resposta de fé e um
comprometimento absoluto. É possível resumir a prática ministerial de Jesus
observando suas quatro principais ênfases, que eram: a) anunciar a verdade de
Deus com autoridade aos ouvintes, mostrando que as profecias estavam sendo
cumpridas nele e pregando as Escrituras pelo método de exposição, ilustração e
aplicação com o objetivo de converter pecadores e edificar os discípulos; b)
depender do Pai em tudo, vivendo em completa submissão e vida de oração; c)
desenvolver um ministério de misericórdia paralelo ao da pregação, em que as
curas e exorcismos tinham o propósito de mostrar a sua compaixão e a natureza
singular de sua vida e obra (Mt 11.2-6; Is 35.5-6; 61.1); d) preparar
discípulos para que fossem como ele mesmo e dentre eles selecionar um grupo
para pastorear os demais (os 12 apóstolos).
A. Jesus, o expositor da Palavra
Jesus
foi um pregador da Palavra de Deus e sua forma de pregar foi essencialmente
judaica, apresentando a exposição das Escrituras entrelaçada com ilustrações,
figuras de linguagem e constantes aplicações práticas. Sua preocupação central
era anunciar que o reino havia chegado à sua plenitude e a sua própria pessoa
representava a inauguração do estágio final do reino de Deus. Ele era não
somente o concretizador das promessas do Antigo Testamento concernentes à era
vindoura, mas também o inaugurador dos propósitos finais de Deus na história da
salvação, trazendo a mensagem do evangelho tanto para judeus como para gentios
(Mt 4.23-25).
A exposição do Antigo Testamento feita com
autoridade formava a base do ministério de Jesus (Lc 4.16-21). Ele era tanto o
intérprete final das Escrituras, como a sua vida e ministério (nascimento,
morte, ressurreição e exaltação) eram a própria chave para se entender o seu
conteúdo, uma vez que todas as Escrituras falavam a respeito dele (Lc
24.25-27,44-45).
Durante todo o seu ministério Jesus nunca se
apartou da Palavra de Deus e sua linguagem, motivos, temas e mensagem eram
somente baseados nela. Algumas vezes, sua pregação consistia em uma exposição
bíblica em textos específicos com afirmações revestidas de autoridade e autor
referências que indicavam o caráter único de sua pessoa (Lc 4.16-21). Outras
vezes, tratava de temas gerais e amplos cujas ideias estavam ancoradas em
linguagem alusiva ao Antigo Testamento, como no caso do sermão do monte (Mt 5.1–7.29).
Ou, ainda, sua exposição era resultado de uma resposta aos desafios e questões
propostas pelos ouvintes (Mt 19.3-12). Sua prática de ensino possuía sempre
autoridade e era repleta de metáforas, símiles, parábolas e outras figuras de
linguagem usadas para causar impacto nos ouvintes.
A ênfase ministerial de Jesus nas Escrituras e sua
forma de interpretar foram imitadas pelos apóstolos e seus seguidores, mas,
infelizmente, têm sido negligenciadas pelos líderes. É de fundamental
importância reaprender os métodos interpretativos e comunicativos de Jesus, com
a profundidade bíblica acompanhada de ilustrações e aplicações práticas que
falem ao mundo real dos ouvintes.
B. Jesus e sua vida de oração
A
oração foi um elemento distintivo no ministério de Jesus. Não há um único
momento em seu ministério em que Jesus não seja visto buscando o Pai em oração.
Além disso, o escopo de sua oração era vasto, pois tanto orou por si, como
pelos discípulos e os futuros crentes. Ele também ensinou os discípulos a orar
e deixou um modelo de oração a ser imitado.
Jesus orou no início e durante seu ministério (Mc
1.35-39; Mt 14.23; Lc 9.28), antes de escolher os discípulos e depois os
ensinou a orar (Lc 6.12-16; 11.2; Mt 6.9-15; Mt 21.22; Lc 11.9-13; 18.1;
22.40), antes e durante a sua crucificação (Mc 14.32-42; 15.34-35). Ele rogou
(orar com grande intensidade) pela vida espiritual dos discípulos (Lc 22.32; Jo
17.9), pela sua futura igreja (Jo 17.20-21). Jesus zelou pelo papel singular da
oração na vida do povo de Deus (Mt 21.13) e alertou sobre a importância da oração
na batalha espiritual (Mc 9.29; cf. Ef 6.17- 18). A submissão a Deus em se
ministério dirigia suas orações. Ele não orava por algo que implicasse fazer
sua própria vontade (Mt 26.36-39,53).
Todas as citações mostram que Jesus viveu em
constante oração em seu ministério. A oração não era uma prática ou tema
acessório em sua vida, mas a contínua ênfase que norteava seu ministério e
deveria também nortear o ministério dos discípulos. Portanto, é impossível
pensar em um líder cristão fiel que não seja um homem de oração. Nas palavras
do teólogo John Owen, “um ministro pode encher os bancos da igreja, sua lista
de comunhão, a boca do público, mas o que esse ministro é sobre seus joelhos em
secreto diante do Deus Todo-Poderoso é o que ele é e nada mais”.
III. JESUS, O LÍDER A SER SEGUIDO
Outra
característica fundamental no ministério de Jesus foi sua ênfase em formar
discípulos e motivá-los a ser como ele. Cristo escolheu homens comuns e os
treinou por um período de tempo ensinando-os a guardar a Palavra de Deus (Mt
28.20), corrigindo pela convivência e exemplificando modelos comportamentais a
serem imitados (Jo 13.12-17,34-35). Ele os ensinou sobre teologia e como
interpretar as Escrituras, sobre a história da salvação e seus eventos finais,
bem como a viver em comunhão e de forma piedosa como homens de oração,
dispostos a perdoar e servir aos outros com humildade.
Porque
seu ministério seria curto (cerca de três anos), era preciso um programa de
discipulado rápido, prático, intensivo e seletivo. Então ele escolheu
especialmente 12 homens com quem trabalhar mais de perto (Lc 6.12-16). A
seleção dos 12 foi um marco importante no ministério de Jesus, pois seu
ministério adquirira grandes proporções e isso exigia uma organização e divisão
de trabalho mais efetiva. Além do mais, era preciso preparar uma liderança que
serviria de fundamento para a igreja do Novo Testamento, que seria composta de
judeus e gentios (Ef 2.19-22).
No caso específico dos 12, o objetivo de Jesus foi
treiná-los para exercer um pastoreio sacrificial, um amor abnegado pela obra do
Pai e uma vida de humildade similar à do Mestre. Eles precisavam pastorear com
a Palavra, vigiar em oração, exercer misericórdia para com os fracos e
oprimidos e liderar com amor. Sua missão seria testemunhar acerca da obra de
Cristo e glorificar o seu nome fazendo discípulos de todas as nações,
“ensinando-os a guardar todas as coisas” ordenadas por Jesus (Mt 28.18-20; At
1.8; 4.12,33).
Líderes devem aprender com Jesus que a prioridade
no ministério não é apenas pregar, mas formar discípulos pelo ensino e exemplo.
Além disso, é importante selecionar e preparar dentre eles os que são aptos
para liderar a igreja. Formar discípulos requer tempo, ensino da Palavra,
oração, visitação, atribuição de missão, exemplo e humildade.
Estudar
sobre a vida de Jesus como líder nos conduz a um modelo completo de liderança,
em que autoridade e serviço, amor e verdade, firmeza e sensibilidade,
disciplina e compaixão, fidelidade e submissão andam juntos. É pastorear com
coração amoroso e formar discípulos pelo ensino, exemplo e serviço. É ter
posição de autoridade, mas agir humildemente como servo de todos. É trabalhar
incansavelmente anunciando o evangelho, mas sempre dependendo de Deus em tudo.
É ter paciência com as ovelhas, pastoreando cada uma delas de acordo com suas
necessidades. É resistir ao erro, denunciar a hipocrisia, o legalismo e as
tradições humanas que se sobrepõem à verdade de Deus. Porém, é também anunciar
o arrependimento, indicando o caminho da salvação aos pecadores e a vida que
devem viver para agradar a Deus. Enfim, estudar sobre o ministério de Jesus é
descobrir que nunca houve ou haverá um líder como ele, mas todos os líderes
cristãos são desafiados a ser como Cristo.
FONTES
DE PESQUISA
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