Galera de Cristo 10 - A Misericórdia de Deus

"Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, Pai das misericórdias e Deus de toda consolação" - II Corintios 1.3

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O amor e a misericórdia em Deus são dois atributos que se completam!
São João disse que “Deus é amor” (1Jo 4,8). Penso que o amor e a misericórdia em Deus são dois atributos que se completam. Todas as obras de Deus trazem estas duas marcas. Toda a Criação é obra desse amor e dessa misericórdia. Santo Tomás diz que “aberta a Mão de Deus pela chave do amor, as criaturas surgiram”. Toda a Criação é bela, seja mineral, vegetal ou animal; e tudo foi feito para o homem. “O homem é a única criatura que Deus quis por si mesma” (GS, 24). Tudo o mais foi feito para nós, o Cosmo, as trilhões de estrelas como o Sol, os pássaros do céu, as flores, os animais, os peixes… dão glória a Deus quando servem ao homem e lhe servem de alimento. (CIC, §2417). Tudo é fruto da misericórdia divina: “Os Céus e a Terra proclamam a Vossa glória!”
Mas Deus é também Justiça. Sem a Justiça divina a Sua misericórdia fica esvaziada, sem sentido. A justiça é a garantia da santidade, e Deus é “Três vezes Santo”, como disse o Papa Paulo VI. A justiça atua por força da santidade. Por que um pai corrige um filho, lhe dá um castigo, corta a mesada, o passeio, a internet, etc.? Porque o filho não está vivendo corretamente. Não está obedecendo a justiça. Quando a sociedade pune o criminoso, o corrupto, o estuprador etc., o faz para corrigir, para levar o homem à correção, à santidade.
Ora, Deus é Perfeito, Santo, por isso não pode deixar passar o erro humano sem punir, sem corrigir, pois isso contrariaria a Sua Santidade. É como que um dever e um direito de Deus nos punir quando pecamos. Primeiro porque o pecado ofende a Majestade Infinita de Deus; e, segundo, porque a Sua santidade exige a nossa santidade; pois sem ela “não podemos ver a Deus” (Hb 12,14). Por isso Deus exerce a Justiça. Após a morte “importa que todos nós compareçamos diante do tribunal de Cristo. Ali cada um receberá o que mereceu, conforme o bem ou o mal que tiver feito enquanto estava no corpo” (2Cor 5,10). E no final da história Ele “virá para julgar os vivos e os mortos” (Credo). Mas a misericórdia divina ainda nos dá outra oportunidade de chegar à santidade após a morte: o Purgatório. E as indulgências parciais e plenárias aliviam essas penas. Ela não são de graça; são decorrentes dos méritos de Cristo, da Virgem Maria e dos santos. Nada é de graça, tudo é dom da misericórdia. Alguém paga pela satisfação da Justiça divina.
O que é então a misericórdia de Deus?
É o cumprimento da Sua Justiça, quando pecamos; mas, satisfeita com o auxílio do próprio Deus, já que não podemos satisfazê-la por nós mesmos. Como assim?
Vejamos:
Deus criou o homem e a mulher por amor, e os colocou em Sua intimidade, desfrutando da perfeição humana, nos estados de justiça e de santidade. Isto é, harmonia perfeita consigo mesmo, com a mulher, com a natureza e com Deus. Era o Paraíso, a felicidade plena, sem sofrimento e sem morte. Mas o homem ofendeu barbaramente a Deus. Preferiu ouvir a voz da antiga Serpente, Satanás, do que ouvir a voz de Deus. Disse NÃO a Deus, desconfiou do amor de Deus, tentado pelo Mal.
Então, foi expulso do Paraíso; perdeu os dons préter naturais, a graça, a imortalidade, e teve, então, de tirar da terra o pão de cada dia com o suor do seu rosto. A mulher passou a dar a luz na dor, a natureza se rebelou, porque era propriedade do homem. Os animais e a natureza se desorientaram. A morte entrou na história humana. Somente quando o Reino messiânico for estabelecido totalmente é que os terremotos não mais existirão, e “o lobo será hospede do cordeiro, a pantera se deitará com o cabrito, o touro e o leão comerão juntos… a criança de peito brincará junto à toca da víbora. Não se fará mal em todo o monte santo” (Is 11,6-9).
A humanidade toda nascida de Adão estava condenada, por causa da ofensa a Deus, a viver a frustração, longe da felicidade do Criador; estava destinada ao inferno: se deixou levar pelo demônio, agora passaria a viver com ele para sempre. Isto é o efeito da Justiça divina, puniu o homem; não poderia ser diferente.
O Salmista fala inúmeras vezes que o reino de Deus se mantém pelo direito e pela justiça, não pela força:
“Deus ama a justiça e o direito, da bondade do Senhor está cheia a terra” (Sl 32, 5). “Como a luz, fará brilhar a tua justiça; e como o sol do meio-dia, o teu direito” (Sl 36, 6).
Ora, como foi o homem quem ofendeu a Deus – uma ofensa que tem magnitude infinita porque a Majestade de Deus é infinita – então, um homem deveria fazer essa reparação à Justiça divina ferida. Mas não havia um homem capaz disso, pois todos estavam envolvidos no pecado de Adão. O Catecismo diz que ainda que o homem mais santo morresse na cruz, seu sacrifício seria insuficiente para reparar a ofensa à Majestade Infinita de Deus. Era preciso que um homem, que também fosse Deus, fizesse a oblação de sua vida. Então, o Verbo, no seio do Pai, se ofereceu para se fazer homem, assumir a natureza humana, e então poder morrer, oferecendo o valor Infinito de Sua oblação para reparar a ofensa da humanidade. Foi este aniquilamento do Verbo humanado que mostra toda a misericórdia divina.
A Carta aos Hebreus explica isso: “Eis por que, ao entrar no mundo, Cristo diz: Não quiseste sacrifício nem oblação, mas me formaste um corpo. Holocaustos e sacrifícios pelo pecado não te agradam. Então eu disse: Eis que venho (porque é de mim que está escrito no rolo do livro), venho, ó Deus, para fazer a tua vontade (Sl 39,7ss)… Eis que venho para fazer a tua vontade. Assim, aboliu o antigo regime e estabeleceu uma nova economia. Foi em virtude desta vontade de Deus que temos sido santificados uma vez para sempre, pela oblação do corpo de Jesus Cristo… Cristo ofereceu pelos pecados um único sacrifício e logo em seguida tomou lugar para sempre à direita de Deus” (Hebreus 10,5-12).
Não foi o Pai quem impôs o sacrifício da Cruz a Seu Filho único; foi o Filho, que por amor a nós e por misericórdia, se compadeceu de nossa miséria e Se ofereceu para ser imolado em nosso lugar. O pecado do homem exige a sua morte, porque Deus é quem lhe dá a vida.
Aqui está o apogeu da Misericórdia de Deus: o Verbo se fez carne, a Misericórdia se fez homem, para nos salvar da morte eterna, quando nenhum homem poderia ser nosso salvador. Ele veio como o “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1,29, 1 Pd 1,18; Jo 3,16; Hb 9,26; Cl 1,13; Gl 1,4; Gl 3,13). Foi imolado por nós, por você e por mim (cf. Gl 2,20).
E Cristo pagou um preço indizível, inenarrável. Nasceu como o “pobre dos pobres”, não teve uma maternidade, uma parteira, nem mesmo um berço. Esvaziou-se completamente de tudo (cf. Fil 2, 9ss), fez-se escravo e morreu numa cruz. Seu corpo foi todo flagelado, Sua Cabeça perfurada por mais de setenta espinhos. Sua agonia no Horto das Oliveiras foi tão horrível que o Sangue verteu do seu corpo misturado com o suor frio. Tudo que um homem podia sofrer, Ele sofreu, para que seu sacrifício humano pleno, completo, garantisse à humanidade a Redenção plena. “Tudo está consumado, Pai!”. Bebi todo o cálice da Redenção da humanidade! Isto é a misericórdia divina. Satisfez a justiça divina o que não podíamos satisfazer. “Deus amou a tal ponto o mundo que deu o Seu Filho único para que todo que Nele crer tenha a vida eterna” (Jo 3,16). A humanidade foi salva pela misericórdia divina, que não anulou a Justiça divina, mas a cumpriu em nosso lugar. Misericórdia é sofrer no lugar do outro, para que ele viva.
Logo que ressuscitou, no domingo, Jesus apareceu aos Apóstolos e instituiu o Sacramento da Confissão, para o perdão dos pecados, cujo perdão Ele tinha então conquistado. “Assim como o Pai me enviou, Eu envio a vós, a quem perdoardes os pecados, eles serão perdoados…” (João 20,22). A humanidade tinha agora o perdão à sua disposição; basta crer e ser batizado e será salvo. Se pecar, buscar a Confissão. É a grande obra da misericórdia divina. Quando o sacerdote absolve o pecador, é o Sangue de Cristo que lava a sua alma. É o exercício da misericórdia. Agora só se perde quem quiser, quem desprezar a divina e eterna misericórdia. É o que Jesus disse a Santa Faustina Kowalska. Com a Sua morte ele nos deu vida e abriu para a humanidade um Mar de misericórdia. Jesus disse à Santa que é preciso beber neste Mar com o vaso da Confiança.
Mas, tem mais, como Ele sabia que o pecado original adoeceu e enfraqueceu a nossa natureza, então, Ele quis ficar pessoalmente conosco, para ser o “remédio e o sustento” de nossa vida. Então, se aniquilou, se fez Pão e Vinho, para ser comido e bebido, e poder estar em nossa alma. Excesso de misericórdia! Está hoje em todos os Sacrários da Terra, oculto, prisioneiro, aniquilado, até o fim do mundo, para nosso sustento. Não há problema que não possa ser resolvido ali a Seus pés. Este é o maior de todos os Seus milagres. E ainda nos deixou a Igreja, os Sacramentos, a Sua Palavra, a oração litúrgica, a Sua Mãe para ser nossa mãe espiritual, para que possamos voltar para o Paraíso do qual fomos excluídos pelo pecado.
Como pagar a Jesus tanto amor, tanta misericórdia?
São João da Cruz disse que “amor só se paga com amor”. Ele disse na Santa Ceia aos Apóstolos: “Se me amais guardareis os Meus Mandamentos” (Jo 14,15). Amá-lo é viver como Ele quer, como a Sua Igreja nos ensina, e buscar em primeiro lugar o Reino de Deus. Trabalhar pelas salvação das almas, pois há mais alegria no Céu por um pecador que se converte do que pelos justos. Assim como Ele deu sua vida por nós, dar a nossa pelos irmãos, ensinou São Pedro.
Que a mesma misericórdia divina se compadeça de nós e nos ajude a dar a Deus uma resposta de amor. Que nossa vida seja um hino de louvor à Sua Majestade e à Sua Misericórdia. Aproveitemos este ano de 2016 em que as suas comportas estão mais abertas. “Ó Sangue e água que jorrastes do Coração de Jesus como fonte de misericórdia, eu confio em vós!”
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