"Assim que, se alguém está em
Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez
novo" - II Coríntios 5.17
Texto Bíblico Básico: João 3.1-8
O
QUE SIGNIFICA SER TRANSFORMADO?
O que acontece depois de sermos escolhidos em
Cristo e chamados eficazmente pela pregação do evangelho e a ação do Espírito?
Qual é o próximo elo na grande bênção da salvação? Como e em qual momento
recebemos vida espiritual para podermos responder com fé à vocação eficaz?
Regeneração e novo nascimento são a mesma coisa? Ser nascido de Deus e ser uma
nova criatura são a mesma coisa? Como a regeneração acontece? O que ela tem a
ver com a conversão e a santificação?
1.
O ensino bíblico sobre regeneração
A
Escritura mostra com clareza que apenas Deus pode realizar a transformação
necessária para capacitar os seres humanos a fazerem o que é agradável aos seus
olhos (Dt 30.6; Jr 31.33; Ez 36.26).
No
Novo Testamento encontramos ensinos mais claros e ricos sobre a regeneração.
Nenhum autor trata mais frequentemente do tema do novo nascimento do que João.
Veja, por exemplo, o que é dito em João 1.12-13: “Mas, a todos quantos o
receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que
creem no seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne,
nem da vontade do homem, mas de Deus”. Repare que ser filho de Deus não é algo
que se consegue pela descendência (“não nasceram do sangue”) nem pela decisão
humana autônoma (“nem da vontade da carne”), mas exclusivamente pela ação de
Deus (“de Deus”).
Para
sermos filhos de Deus, precisamos ser espiritualmente gerados por ele. É
verdade que “todos quantos o receberam”, isto é, todos aqueles que creem em
Jesus, recebem o direito de serem filhos de Deus, mas até mesmo a fé pela qual
essas pessoas creem em Jesus é um dom de Deus (Ef 2.8-9) e, portanto, faz parte
da ação de Deus na salvação humana. A regeneração é uma obra totalmente divina
realizada pelo Espírito no coração do pecador.
Talvez
nenhum texto da Escritura ensine a soberania de Deus na regeneração humana de
modo mais claro do que nosso texto básico (Jo 3.1-15). Nicodemos, um judeu
importante, membro do Sinédrio, foi se encontrar com Jesus. Ele respeitava
Jesus como mestre, mas ainda não havia entendido bem a verdadeira missão que
Jesus tinha vindo realizar. No versículo 3, Jesus faz uma declaração que
expressa o núcleo da mensagem que Nicodemos precisava compreender: “Em verdade,
em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo [não for regenerado], não
pode ver o reino de Deus”. Portanto, nascer de novo, é o pré-requisito
fundamental para que a pessoa tenha acesso ao reino de Deus. Nicodemos não
estava preparado para esta resposta. Ele era uma pessoa respeitável, um homem
idôneo, era aquilo que costumamos chamar de “gente de bem”. Sendo assim, como,
por que e em que sentido ele precisava nascer de novo?
Diante
da dificuldade de Nicodemos em entender as suas palavras (v. 4), Jesus declara
ainda com mais clareza: “Em verdade, em verdade te digo: Quem não nascer da
água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus” (v. 5). A água era usada,
no Antigo Testamento, para simbolizar a purificação interna. O uso mais notável
deste símbolo é visto em Ezequiel, quando o Senhor anuncia a futura restauração
de Israel: “Aspergirei água pura sobre vós, e ficareis purificados; de todas as
vossas imundícias e de todos os vossos ídolos vos purificarei” (Ez 36.25).
Então Jesus está dizendo que se a pessoa não for purificada por Deus, ela não
pode entrar no reino. O Espírito, por sua vez, é o agente divino que produz o
novo nascimento. Portanto, Jesus está afirmando a necessidade de purificação
interior e regeneração para que a pessoa possa entrar no reino de Deus.
Nesse
novo nascimento, somos totalmente dependentes da ação do Espírito. Ele é
soberano na regeneração. Jesus ensina: “O vento sopra onde quer, ouves a sua
voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo o que é nascido
do Espírito” (v. 8). A ação do Espírito na regeneração é tão soberana quanto a
ação do vento, que sopra onde quer. Além disso, ela também é misteriosa, como
os movimentos do vento.
Quando
Jesus diz que “o que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito
é espírito” (v. 6), ele não está usando a palavra “carne” no sentido de
“natureza humana escravizada pelo pecado”, como Paulo faz frequentemente, mas
no sentido de “fraqueza humana”. O sentido do texto é que aquele que tem um
nascimento apenas físico continua sendo uma pessoa não regenerada, mas aquele
que é nascido do Espírito se torna uma pessoa regenerada, um filho de Deus. A
regeneração, portanto, provoca em nós uma mudança real: deixamos de ser
simplesmente criaturas de Deus e nos tornamos filhos de Deus.
A
primeira carta de João também é repleta de ensinamentos sobre a regeneração. Em
1João 2.29, ele afirma que a pessoa regenerada pratica a justiça. Isso mostra
que a regeneração, embora aconteça em um dado momento no tempo, é manifestada
na vida do crente pelos efeitos que ela produz. O mesmo ensino está presente em
1João 3.9: “aquele que é nascido de Deus não vive na prática do pecado”, isto
é, não tem prazer no pecado e tem aversão a ele.
A
regeneração não nos torna perfeitos. Mesmo depois de regenerados, continuamos
tendo que lidar com o problema do pecado, como o próprio João ensina: “Se
dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos e a verdade
não está em nós (1Jo 1.8). Seremos perfeitos somente quando formos
glorificados. No entanto, a regeneração coloca em nosso coração uma disposição
nova, uma disposição para o bem que agrada a Deus, uma disposição para a
santidade, de modo que não mais servimos ao pecado como escravos. Em 1João 4.7,
João afirma que a pessoa regenerada ama seus irmãos, sendo esta mais uma
evidência da regeneração. Uma pessoa regenerada reconhece em outra pessoa
regenerada um irmão em Cristo. Somos regenerados individualmente, mas, quando
isso acontece, somos imediatamente inseridos na família cristã.
Em
1João 5.1, o apóstolo afirma que a pessoa regenerada tem fé em Jesus. Esse “em
Jesus” é fundamental aqui. O regenerado não tem fé em um ídolo, não tem fé nas
riquezas deste mundo, não tem fé em si mesmo. O regenerado tem fé em Jesus.
João também afirma que “todo o que é nascido de Deus vence o mundo” (1Jo 5.4).
Esta vitória, porém, não é alcançada pela sabedoria deste mundo, mas pela fé em
Jesus.
O
redimido tem aversão ao pecado e, também, é guardado por Deus e não pode ser
tocado pelo diabo (1Jo 5.18). Sendo regenerados por Deus, somos também
preservados por ele. Nem mesmo o diabo pode nos fazer voltar ao antigo estado
de mortos espirituais e inimigos de Deus. Uma vez que recebemos de Deus a vida
espiritual, ele mesmo a preservará em nós. Reconciliados com Deus em Cristo,
não voltaremos ao antigo estado de hostilidade permanente contra ele. Enfim, de
modo geral, na primeira carta de João aprendemos que a pessoa regenerada tem
sua vida marcada pelas seguintes características: justiça, aversão ao pecado,
amor aos irmãos, fé em Jesus e vitória sobre o mundo. Vimos também que o
regenerado é guardado pelo próprio Deus.
Paulo
também fala sobre a regeneração. Em Efésios 2.5, ele diz que “Estando nós
mortos em nossos delitos, [Deus] nos deu vida juntamente com Cristo”. A
regeneração, portanto, é o ato de Deus pelo qual ele dá vida espiritual a
pessoas que estavam espiritualmente mortas. Mais uma vez, a regeneração é
apresentada como uma mudança de estado na vida humana: da morte para a vida. Em
Efésios 2.10 e 2Coríntios 5.17, ele faz a surpreendente declaração de que a
regeneração é uma espécie de nova criação. Os regenerados são criados em
Cristo, tornando-se, assim, novas criaturas.
Encerrando esta divisão, podemos definir a
regeneração como “a obra do Espírito Santo pela qual ele inicialmente traz as
pessoas à viva comunhão com Cristo, transformando seus corações para que
aqueles que estão espiritualmente mortos se tornem espiritualmente vivos,
habilitados a se arrependerem do pecado, crer no evangelho e servirem ao
Senhor”.
2.
A natureza da regeneração
A
regeneração é tão misteriosa quanto o vento. Não sabemos de onde vem, nem para
onde vai (Jo 3.8). Além disso, não podemos observar a regeneração, podemos
apenas observar a manifestação dos efeitos produzidos na vida dos eleitos de
Deus. No entanto, com base no ensino bíblico, podemos fazer algumas afirmações
importantes sobre a natureza da regeneração:
1. É uma transformação instantânea. A regeneração é imediata, ao contrário da
santificação, que é um processo contínuo que dura toda a vida do crente. Em
Efésios 2.5, a regeneração é descrita como uma mudança da morte para a vida.
Não existe meio termo entre a morte e a vida. Ou a pessoa está morta, ou está
viva.
2. É uma transformação sobrenatural que
Deus realiza no crente. Repare que a
regeneração não é apenas uma melhoria moral ou uma melhoria social, mas uma
mudança sobrenatural. O regenerado não se torna uma “pessoa boa”, ele se torna
uma nova criatura. É claro que a santificação que acompanha a regeneração tem
efeitos éticos na vida do regenerado, mas a regeneração vai muito além disso.
Ela não se refere somente a uma mudança de comportamento, mas a uma mudança em
nosso relacionamento com Deus.
3. É uma mudança radical, não superficial.
A regeneração atinge a essência da natureza humana.
a)
A regeneração é a concessão de vida espiritual. É na regeneração que o pecador
morto em seus delitos torna-se espiritualmente vivo e é feita a sua
reconciliação com Deus.
b)
A regeneração é uma mudança que afeta a vida toda. Não se trata de uma mudança
apenas intelectual, mas de uma mudança que atinge o intelecto, a vontade e as
emoções. A Escritura fala que a pessoa regenerada tem um coração novo, isto é,
uma vida nova.
3.
A regeneração e as outras doutrinas bíblicas
Fazendo
o estudo de um dos elementos da salvação pela perspectiva da ordo salutis, é
muito proveitoso verificarmos a relação da regeneração com outras doutrinas
bíblicas ligadas à salvação.
a) Regeneração e conversão. A regeneração resulta na conversão (fé e
arrependimento). Podemos dizer que a conversão é a evidência externa de que uma
pessoa foi regenerada.
Veja,
por exemplo, o que a Escritura diz a respeito da conversão de Lídia: “Certa
mulher chamada Lídia, da cidade de Tiatira, vendedora de púrpura, temente a
Deus, nos escutava; o Senhor lhe abriu o coração para atender às coisas que
Paulo dizia”. O autor do livro de Provérbios diz: “Sobre tudo o que se deve
guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida” (Pv
4.23). O coração, na Escritura, designa o centro de todas as atividades
humanas. Ele é a fonte das experiências mentais e espirituais. Por isso, quando
Lucas, em Atos 16.14, diz que Deus abriu o coração de Lídia, entendemos que ele
está descrevendo a regeneração realizada por Deus nesta mulher para que ela
entendesse o que Paulo estava dizendo e pudesse se apropriar disso pela fé.
Esta
resposta do pecador ao chamado eficaz é o que chamamos de conversão. Chamado
eficaz, regeneração e conversão ocorrem simultaneamente. Não há um intervalo
entre a concessão de cada uma destas bênçãos espirituais. Todas elas são
simultaneamente concedidas pela graça de Deus na grande bênção da
salvação.
b) Regeneração e
santificação. Somos santificados imediatamente no
momento em que somos salvos. No entanto, essa bênção da santificação que
recebemos no momento da conversão tem de ser desenvolvida ao longo de nossa
jornada cristã. Portanto, neste sentido, podemos dizer que a regeneração é o
começo da santificação. A regeneração nos conduz a uma vida de progresso em
santificação e obediência. Precisa ser observado que, embora a regeneração seja
pessoal, os redimidos formam um corpo, a família da fé. Isso faz com que nossa
regeneração tenha implicações sociais dentro do corpo de Cristo. Pedro ensina:
“Amai-vos, de coração, uns aos outros ardentemente, pois fostes regenerados”
(1Pe 1.22-23). O corpo de regenerados, que é a igreja, precisa desenvolver sua
santificação.
Os
cristãos não são apenas pessoas boas, são pessoas novas, regeneradas, são novas
criaturas em Cristo Jesus. A regeneração atinge em cheio nossa natureza humana
caída e a transforma de tal modo que passamos da morte para a vida, de um
estado de hostilidade contra Deus para um estado de paz com Deus. Essa
transformação causada pelo novo nascimento tem implicações permanentes em toda
a vida cristã, permitindo-nos receber pela fé a oferta da salvação e nos
conduzindo a uma vida de santidade.
Aplicação
Embora
não possamos ver a regeneração, podemos ver os efeitos que ela produz na vida
do regenerado. Em 1 João, encontramos várias evidências práticas que podem ser
observadas na vida dos regenerados. O que essas evidências têm a ver com a
santificação? É possível tornar essas evidências bem nítidas em sua vida? O que
você precisa fazer para que elas sejam bem realçadas?
FONTES
DE PESQUISA
http://ultimato.com.br/sites/estudos-biblicos/assunto/evangelizacao/regeneracao-ou-novo-nascimento/
Muito bom seu comentário sobre a lição, bem resumido porem com conhecimento e clareza do assunto. Que DEUS continue abençoando você.
ResponderExcluirmuito obrigado por compartilhar conosco deste estudo , muito edificante . deus te abencoe .
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