Lição 08 - A Soteriologia Reformada

"Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos! Porque quem compreendeu o intento do Senhor? Ou quem foi o seu conselheiro? - Romanos 11.33,34

Texto Bíblico Básico: Romanos 9.9-21


O QUE É SOTERIOLOGIA?
Talvez seja uma das áreas mais discutidas dentro da teologia, isso porque muitos teólogos, com posições diferentes posicionamentos sobre o assunto, iniciaram um debate sobre que já dura vários séculos.
Imagem relacionadaSoteriologia é basicamente a doutrina da salvação, ou seja, é a área da teologia que estuda a salvação em todos os seus aspectos. A palavra “soteriologia” vem do grego “soteria” e significa “salvação” ou “livramento”. O termo “soteriologia” começou a ser utilizado no século 19.
Há subdivisões dentro da soteriologia que abordam a salvação como um plano eterno e obra remidora de Deus, a expiação no sangue de Cristo, a operação da graça divina, o estado do homem em relação ao pecado, a obra do Espírito Santo e o destino final do homem.
Existem muitas teorias com diferentes visões sobre vários pontos dentro da soteriologia. O objetivo deste texto é ser bem simples, objetivo e de fácil entendimento, portanto não entraremos em tantos detalhes, priorizando assim os pontos mais importantes.

Soteriologia: O que é Salvação?


Vários termos são utilizados na Bíblia para se referir à salvação, desde o hebraico no Antigo Testamento até o grego no Novo Testamento. No hebraico, a raiz mais importante para salvação é “yasha” que significa “liberdade” ou “libertar daquilo que prende”. Existem vários substantivos derivados desta raiz, e todos trazem a ideia de “libertar”, “resgatar”.
No grego, o verbo “sozo” e seus cognatos “soteria” (salvação) e “soter” (salvador) traduzem o hebraico “yasha“.  Nos livros do Novo Testamento o termo “soteria” aparece apenas em conexão com Cristo como Salvador.
Biblicamente a salvação é obra completamente de Deus (em todos os aspectos), e traz a justiça de Deus para o homem, ou seja, resgata o homem do estado de pecado para o estado de glória através de Jesus, isto é, na morte de Cristo para a remissão dos pecados.
Quando Cristo voltar, a natureza caída e pecaminosa do homem será totalmente aniquilada, acontecerá então a “redenção do nosso corpo” (Rm 8:23) e a salvação em toda sua plenitude será realizada (Hb 9:28).

Soteriologia: Quais são bênçãos da Salvação?


De forma resumida, as bênçãos resultantes da salvação são:
  • Redenção: é a total liberdade por meio do resgate pago por Jesus (2Pe 2:1; Gl 3:13; Mt 20:28);
  • Reconciliação: agora o relacionamento do homem, antes pecador e agora redimido, passou a ser de comunhão com Deus e não mais de inimizade;
  • Propiciação: através do sacrifício de Cristo a ira de Deus não está sobre os salvos;
Quando uma pessoa é salva, significa que em relação a Deus essa pessoa é redimida, justificada, reconciliada e limpa.

Soteriologia: Quais as diferentes Teorias da Expiação?


Ao longo da história, várias visões diferentes sobre a expiação foram desenvolvidas, propostas e defendidas. Bem resumidamente vejamos as teorias mais conhecidas:
  • Teoria da Recapitulação: esta teoria defende a ideia de que o sacrifício de Cristo reverteu o curso da humanidade da desobediência para a obediência, e que a vida de Jesus representou todas as fazes da vida humana, daí a ideia de “recapitulação”. Esta teoria não encontra apoio bíblico.
  • Teoria Mística: esta teoria diz que a expiação de Cristo foi um triunfo contra a Sua própria natureza pecaminosa e, essa vitória, influenciaria o homem a querer se aproximar de Deus. Nesta teoria Jesus é classificado como um pecador entre os pecadores e contradiz totalmente a Bíblia que afirma claramente que Ele nunca pecou, não foi achado pecado algum nEle, Ele era santo, inocente e separado dos pecadores (Hb 7:26). O próprio Jesus em João 8:46 desafiou os homens a encontrarem qualquer pecado nEle. Sabemos que Cristo é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo 1:29).  Esta visão também leva ao universalismo da salvação, ou seja, à salvação de todos os homens. A Bíblia diz claramente que nem todos serão salvos e que haverá condenação eterna para os perdidos (Mt 25:41,46; Ap 20:14,15).
  • Teoria do Resgate Pago à Satanás: você já deve ter escutado algo relacionado a esta teoria. Nela é defendida a ideia de que o sacrifício de Jesus foi para pagar um resgate à Satanás, comprando a liberdade do homem que era seu escravo. Esta é outra teoria totalmente contrária aos ensinos bíblicos. Deus nunca deveu nada à Satanás, e o homem pecador também não. O pecado colocou o homem em divida com Deus e não com o Diabo. Biblicamente, a exigência do pagamento de um resgate é em relação à justiça de Deus, ou seja, Deus é quem exige tal pagamento.
  • Teoria do Exemplo: esta teoria coloca a expiação de Cristo como um “exemplo a ser seguido” de obediência e fé. Claro que a vida de Jesus é um exemplo que deve ser seguido, mas da forma como é colocado na Teoria do Exemplo, ocorre a negação do estado espiritual morto e caído do homem, contradizendo a Bíblia.
  • Teoria da Influência Moral: semelhante a Teoria do Exemplo, esta teoria afirma que a expiação de Cristo demonstra um amor que influencia o homem ao arrependimento. Esta teoria também nega a doutrina bíblica de total incapacidade humana por si só em se arrepender.
  • A Teoria Governamental: esta visão foi elaborada por Hugo Grotius (1583-1645 – sim, o mesmo do Direito Internacional) e traz a ideia de que o sacrifício de Cristo substituiu a penalidade do pecado, mas no sentido de que as leis de Deus foram quebradas e que alguma penalidade foi paga, dependendo agora do homem reconhecer tal pagamento. Sob este aspecto, a morte de Cristo seria um pagamento suficiente de uma divida ao invés de um sacrifício verdadeiro e inatingível para qualquer humano para satisfazer a justiça divina. Desta forma, a Teoria Governamental resulta na ideia de que a morte de qualquer outra pessoa teria tido o mesmo valor, desde que os homens se convencessem do seu estado de pecado e das consequências desse pecado.
  • Teoria da Substituição Penal: esta visão é mais concreta biblicamente. Ela afirma que o homem é morto espiritualmente em seus delitos e pecados, incapaz de qualquer ação positiva em relação à salvação, e que o sacrifício de Cristo expiou nossa culpa cumprindo completamente as exigências da justiça de Deus sobre o pecado, trazendo perdão, imputando justiça e reconciliando o homem com Deus.

Soteriologia: Sinergismo e Monergismo:


De todas as visões abordadas no tópico acima, basicamente as discussões se resumem a duas ideias: Sinergismo e Monergismo.
No sinergismo a salvação é definida como um resultado da vontade de Deus em cooperação (sinergia) com a escolha humana. Já no Monergismo, a salvação é uma obra absolutamente de Deus, sem influência alguma do homem. Em outras palavras, o que esta realmente sendo discutido é o tão famoso debate entre livre-arbítrio e predestinação.
Sob esse aspecto de Sinergismo e Monergismo, um grande debate se estende dentro da igreja ao longo dos séculos, o que originou algumas linhas teológicas muito conhecidas e aplicadas nas igrejas.
  • Arminianismo: o maior expoente deste sistema foi o teólogo holandês Jacob Armínio (1560-1609). Este sistema tenta explicar uma ideia de livre-arbítrio humano em relação à soberania de Deus, depositando mais ênfase na responsabilidade humana que, em algum momento, acaba se sobressaindo em relação à soberania de Deus. Os pontos principais do Arminianismo moderno (linha predominante dentro da igreja atual) são: Depravação Parcial (o homem mesmo corrompido pelo pecado é capaz de escolher se aproximar de Deus); Eleição Condicional (Deus elege os salvos com base em sua pré-ciência sabendo quem iria crer nEle); Expiação Ilimitada (Jesus morreu por todos incluindo os que não serão salvos); Graça Resistível (o homem pode resistir à salvação); Queda da Graça ou Salvação Condicional (o homem pode perder a salvação, sendo necessário então mantê-la). Vale lembrar que o Arminianismo clássico rejeita a Depravação Parcial e tem uma visão mais parecida com o Calvinismo em relação à Depravação Total. Muitos arminianos (principalmente os clássicos) também rejeitam a ideia da Queda da Graça.
  • Calvinismo: tem João Calvino (1509-1564) como maior expoente, embora antes dele muitos líderes da Igreja já defendiam a mesma ideia em relação à salvação. O Calvinismo enfatiza a soberania de Deus em relação à responsabilidade humana, e nega a ideia de livre-arbítrio. Os pontos principais do Calvinismo são: Depravação Total (o homem é incapaz de escolher a salvação por estar morto em delitos e pecados); Eleição Incondicional (Deus elegeu soberanamente alguns para a salvação já que o homem é incapaz de qualquer resposta à Deus); Expiação Limitada (o sacrifício de Jesus é eficaz apenas para os eleitos, ou seja, Cristo morreu apenas pelos que realmente seriam salvos); Graça Irresistível (quando Deus chama o homem, este responde, ou seja, é obra de Deus a aproximação do homem e não fruto do seu livre-arbítrio); Perseverança dos Santos (todos aqueles que Deus escolheu irão perseverar na fé e jamais pereceram, pois a obra de Deus é completa). Dentro do Calvinismo existe o Calvinismo de Quatro Pontos que discorda da ideia de Expiação Limitada e defende, neste ponto, uma visão semelhante ao do Arminianismo.
  • Pelagianismo: ensino que foi defendido por um monge chamado Pelágio do século IV. Seu ensinamento afirmava que os homens não nascem contaminados pelo pecado, ou seja, são inocentes e aprendem a pecar no decorrer da vida. Esse é o ensino mais focado na defesa do livre-arbítrio do homem, já que este possui sua alma livre do pecado, ou seja, pode ser imparcial. Essa ideia contradiz totalmente a Bíblia que afirma que todos os homens são afetados pelo pecado original de Adão (Rm 5:12) e ninguém consegue escapar de nascer com inclinação ao mal (Rm 3:10), já que somos pecadores no momento da concepção (Sl 51:5) e como resultado disso todos os homens morrem (Rm 6:23).
  • Semipelagianismo: é uma adaptação do Pelagianismo e ensina que a humanidade é contaminada pelo pecado, mas não de tal forma que impeça do homem se decidir por Deus. Em outras palavras, o homem seria então capaz de cooperar com Deus devido aos seus esforços e escolhas. Resumidamente seria um tipo de “depravação parcial” e não a “depravação total”. A Bíblia é clara ao afirmar que o homem é totalmente incapaz de se aproximar de Deus por escolha própria, incapaz de cooperar com Deus em relação à salvação e possuí sua natureza completamente corrompida.
O assunto é muito mais extenso e, neste texto, priorizamos apenas os pontos principais sobre a soteriologia. O principal é percebermos que a salvação é algo tão maravilhoso que excede o entendimento humano e, por mais que estudemos, sempre haverá algo misterioso para nós.
A única coisa que nos resta é epenas reconhecer a gradeza da graça de Deus em contraste com a profundidade da depravação humana. Se fizermos isto, dificilmente iremos contradizer os ensinos bíblicos.

LEIA MAIS AQUI SOBRE PREDESTINAÇÃO E LIVRE ARBÍTRIO

https://ebdbelasartes.blogspot.com.br/2015/11/licao-09-predestinacao-e-livre-arbitrio.html
FONTES DE PESQUISA
https://estiloadoracao.com/o-que-e-soteriologia-a-doutrina-da-salvacao/
https://www.gotquestions.org/Portugues/Calvinismo-Arminianismo.html

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