Lição 12 - Os Obstáculos ao Avanço da Igreja
"Mais importa obedecer a Deus do que os homens" - Atos 5.29b
Texto Bíblico Básico: Lucas 6.22; Atos 12.1-8
PERSEGUIÇÃO NA IGREJA PRIMITIVA
As coisas estão um pouco mais difíceis para os cristãos em nossa sociedade hoje do que há algumas décadas, não? Em tempos assim, provavelmente seria bom ter alguma visão panorâmica. Acredito que qualquer um de nós, uma vez que soubesse o que a igreja primitiva passou – e, na verdade, o que cristãos em outras partes do mundo estão passando agora – olharíamos para nós mesmos um tanto embaraçados se nos apanhássemos reclamando da nossa sorte.
Neste artigo, examinaremos a perseguição que nossos irmãos e irmãs enfrentaram na igreja implume dos primeiros séculos depois de Cristo. Falaremos sobre algumas das razões para a perseguição, e identificaremos alguns dos imperadores sob os quais os cristãos padeceram.
Razões para a Perseguição
Existem diversas razões importantes e inter-relacionadas para a perseguição da igreja primitiva.
Primeiro havia o problema de identidade. O Cristianismo a princípio era identificado com o Judaísmo, mas as pessoas rapidamente passaram a vê-lo como uma religião diferente. Os judeus foram abandonados pela maioria; parecia melhor para Roma simplesmente confiná-los e deixá-los sozinhos. O Cristianismo, porém, era um culto novo e estranho, e começou a se espalhar, ultrapassando grupos étnicos e fronteiras geográficas. As pessoas se sentiam ameaçadas por esta religião nova e excêntrica.
O problema seguinte estava nas atividades religiosas dos cristãos, no que eles faziam e no que não faziam.
Nos tempos do Império Romano, o culto aos deuses pagãos e ao imperador fazia parte da vida de todo o mundo. Dois problemas surgiam disto. Primeiro, porque eles não participavam dos rituais pagãos, mas tendiam a se isolar, os cristãos eram considerados anti-sociais. Quando a polícia imperial interessou-se por eles, eles se tornaram mais reservados, o que acrescentou ainda mais combustível à fogueira. Eles foram associados aos collegia – clubes ou sociedades secretas – e os líderes suspeitavam desses grupos, devido à ameaça de sedição.(2) Em segundo lugar, visto como os cristãos não queriam participar das atividades religiosas que, conforme se acreditava, aplacavam os deuses, eles tornaram-se uma ameaça à própria felicidade da comunidade. Escrevendo por volta de 196 a.D., Tertuliano afirmou: “Os cristãos são culpados de todos os desastres públicos e de todos os infortúnios que sobrevêm ao povo. Se o Tibre sobe até os muros, se o Nilo falha em subir e inundar os campos, se o céu retém a sua chuva, se há um terremoto, ou fome, ou praga, imediatamente se levanta o clamor: ‘Cristãos aos leões!’”
Com respeito ao que eles faziam em suas práticas religiosas, a menção de que se alimentavam do corpo e do sangue de Jesus, e a saudação habitual com um beijo, trouxe acusações de canibalismo e incesto.
O terceiro problema era a natureza ou conteúdo das crenças dos cristãos. O historiador Tácito falou dos cristãos como uma “classe odiada pelas suas abominações”, os quais se apegavam a uma “superstição mortal”. Um desenho encontrado em Roma, de um homem com a cabeça de um macaco pendurado em uma cruz, dá uma ideia do que os pagãos pensavam acerca das crenças cristãs.
Finalmente, a relutância dos cristãos em prestar culto ao imperador e aos deuses era considerada loucura, em vista do que lhes aconteceria se não o fizessem. Por que não oferecer simplesmente uma pitada de incenso à imagem do imperador? Em uma sociedade pluralista, a estreiteza das crenças cristãs parecia absurda, especialmente em vista do que aconteceria aos cristãos que não concordassem.
Imperadores
Passemos agora a uma breve visão geral de alguns dos imperadores sob os quais a igreja sofreu perseguição.
Nero
Cláudio Nero foi nomeado imperador aos 16 anos e reinou de 54 a 68 a.D. Ele teve cerca de cinco anos bons, sob a orientação de homens como Sêneca, o poeta e filósofo romano. Mas tudo isso mudou quando mandou matar sua mãe em 59 a.D. Ela fora muito pobre. Sua “insanidade e fúria ao ver seu filho fugir do seu controle” levou Nero a crer que ela fosse uma ameaça para o seu poder. Em 62 a.D., mandou matar sua esposa para que pudesse casar-se com outra mulher. Mais tarde, matou um irmão e seu mestre, Sêneca.
Os cristãos se tornaram objeto da sua fúria após o Grande Incêndio de Roma, em 64 a.D. Alguns suspeitavam que o próprio Nero começara o incêndio, por isso ele apontou o dedo acusador para os cristãos. O fato de que se sentisse confiante para fazer isto indica a baixa consideração em que o povo já tinha os cristãos. O historiador Philip Schaff afirma que “a origem judaica deles, sua indiferença à política e às questões públicas, sua repulsa pelos costumes pagãos, foram traduzidas em um ‘odium generis humani’ (ódio ao gênero humano), e isto tornou uma tentativa por parte deles de destruir a cidade suficientemente plausível para justificar um veredicto de culpa”. Schaff afirma que “ali começou um carnaval de sangue, tal que nem mesmo a Roma pagã jamais vira antes ou depois ... Uma ‘vasta multidão’ de cristãos foi condenada à morte da maneira mais chocante”. Alguns foram crucificados, outros costurados em peles de animais e lançados aos cães, outros foram cobertos de piche, pregados a postes de madeira, e queimados como tochas. Foi nessa ocasião que Pedro e Paulo deram suas vidas pelo seu Salvador, provavelmente separados pelo espaço de um ano.
Nero aparentemente se suicidou em 68 a.D., quando o Senado e os patrícios se voltaram contra ele.
Trajano
O imperador Trajano governou de 98 a 117 a.D. Um dos seus governantes, um homem chamado Plínio, o Jovem, escreveu a Trajano pedindo conselho sobre o que fazer com os cristãos. Eles estavam se tornando numerosos, e Plínio achava que as religiões pagãs estavam sendo negligenciadas. Ele começou a sentenciar à morte cristãos que se recusassem a honrar os deuses e o imperador. Plínio acreditava que, ainda que as práticas dos cristãos não fossem tão más, apenas sua obstinação bastava para que ele se livrasse deles. Deveria ele sentenciá-los somente por trazerem o nome de cristãos, ou teriam de cometer atos criminosos específicos?
Trajano respondeu com um tipo de política do “não pergunte, não diga”. “Eles não devem ser investigados”, disse. Mas, se alguém fizesse uma acusação digna de crédito contra um cristão, o cristão deveria ser sentenciado, a menos que se retratasse e desse prova invocando os deuses pagãos.
A perseguição foi especialmente grave na Síria e na Palestina durante o reinado de Trajano. Em 107, ele foi a Antioquia e exigiu que todos sacrificassem aos deuses. Inácio, bispo de Antioquia e pupilo do apóstolo João, recusou-se e foi martirizado sendo lançado às feras. Inácio escreveu o seguinte a Policarpo, outro discípulo de João, no seu trajeto a Roma: “Que o fogo, o patíbulo, as feras, o partir dos ossos, o separar dos membros, o triturar de todo o meu corpo, e os tormentos do diabo e do próprio inferno venham sobre mim, para que eu possa ganhar a Cristo Jesus”.
Adriano
A política de Trajano foi continuada pelos próximos imperadores. O imperador Adriano, “o mais brilhante dos imperadores romanos”, exigia também acusações específicas contra os cristãos. Ele não permitia que os governadores “usassem meras demandas vociferantes e protestos” como base para julgamento. Ademais, se alguém fizesse uma acusação contra os cristãos “apenas para acusá-los”, o governador devia “proceder contra aquele homem com as penas mais pesadas, de acordo com a sua culpa hedionda”. Não poderia haver processos frívolos.
Contudo, os cristãos ainda precisavam provar lealdade ao estado e às religiões pagãs. Adriano detestava os judeus, e era relativamente “indiferente ao Cristianismo por ignorância a seu respeito”. Ele insultou os judeus e os cristãos igualmente, erigindo templos a Júpiter e Vênus no lugar do templo e no suposto local da crucificação”.
Antonino Pio
A política de não perseguir ativamente os cristãos foi continuada sob Antonino Pio, que governou de 138 a 161 a.D. Durante os reinados de imperadores tais como Adriano e Antonino, porém, os cristãos às vezes sofriam perseguição nas mãos da população das cidades, sem qualquer encorajamento direto dos oficiais do governo. Durante o reinado de Antonino, Policarpo, pupilo do apóstolo João, foi martirizado na Ásia, durante uma dessas explosões de violência. Após isto, as perseguições se acalmaram um pouco. A execução deste ancião de 86 anos pareceu mudar a sorte contra a perseguição por algum tempo.(28)
Marco Aurélio
Em 161 a.D., Marco Aurélio assumiu o poder e reinou até 180. Foi durante o seu reinado que Justino Mártir encontrou sua morte.
Embora não induzisse perseguições contra os cristãos diretamente, ele não tinha nenhuma simpatia por eles, porque os via como sendo fastidiosamente supersticiosos. Somos informados de que “fora baixada uma lei sob o seu reinado, punindo com exílio a todos os que se esforçassem por influenciar a mente das pessoas pelo temor à Divindade, e esta lei visava, sem dúvida, aos cristãos”. F. F. Bruce afirma que “a própria determinação dos cristãos em face do sofrimento e da morte, que em si mesmo poderia ter ganhado o respeito de um estóico, era explicada não como coragem recomendável, mas como perversa obstinação ... Marco desprezava o que lhe parecia a superstição grosseira das crenças cristãs, o que as desqualificava do respeito devido a outros que mantinham seus princípios ao custo da própria vida”. Para Aurélio, era bom morrer por algo importante, mas não por algo tão tolo como o que os cristãos acreditavam. Ademais, os cristãos iam para suas execuções com uma aparência de voluntariedade que ele considerava uma exibição teatral que era anátema para o espírito calmo apreciado pelos estóicos.
Durante o reinado de Aurélio, os cristãos eram acusados por vários desastres naturais porque não queriam sacrificar aos deuses. Em 177 a.D., na Gália, irrompeu terrível perseguição em uma onda de violência popular. Escravos eram torturados para que dessem testemunho contra seus senhores. “Os corpos dos mártires, que cobriam as ruas”, diz Philip Schaff, “eram vergonhosamente mutilados, depois queimados, e as cinzas lançadas no Reno, para que nenhum vestígio dos inimigos dos deuses profanasse o solo”.
Septímio Severo
Outro imperador sob o qual os cristãos sofreram terrivelmente foi Septímio Severo, que governou de 193 a 211. Escrevendo durante o seu reinado, Clemente de Alexandria disse: “Muitos mártires são diariamente queimados, confinados ou decapitados, diante de nossos olhos”.
Em 202, Septímio decretou uma lei proibindo a difusão do Cristianismo e do Judaísmo. Este foi o primeiro decreto universal proibindo a conversão ao Cristianismo. Violentas perseguições irromperam no Egito e no Norte da África. Leônidas, pai de Orígenes, um apologista cristão, foi decapitado. O próprio Orígenes foi poupado porque sua mãe ocultara suas roupas. As perseguições diminuíram um pouco logo após a morte de Septímio, mas recomeçaram com uma desforra sob Décio Trajano.
Décio Trajano
Em seus curtos anos no trono, o imperador Décio Trajano se encarregou de restaurar o antigo espírito romano. Em 250 a.D., ele publicou um edito convocando a um retorno à religião pagã do Estado. Comissários locais eram designados para fazer cumprir o decreto. Quando as pessoas eram suspeitas de serem cristãs, era-lhes dada oportunidade para oferecerem sacrifício aos deuses diante dos comissários. Certificados eram emitidos para provar a lealdade de uma pessoa às religiões pagãs. Muitos cristãos cederam à pressão. Aqueles que não cediam eram colocados na prisão e repetidamente questionados. Os governantes não procuravam mártires; eles queriam ver os cristãos se conformarem. Cristãos que se mantinham firmes eram submetidos a confisco, exílio, tortura, aprisionamento e morte. Em 251, Décio morreu, mas a perseguição continuou, já que os cristãos eram acusados pelas invasões dos godos e por desastres naturais.
Diocleciano
Durante os anos de 303 a 311, a igreja sofreu perseguições tão terríveis que todas as anteriores foram esquecidas. O historiador Philip Schaff viu isto como a batalha final entre o Império Romano pagão e o governo de Cristo no Ocidente. As fontes primárias da perseguição foram Diocleciano e Galério.
Diocleciano chegou ao poder em 284, e durante vinte anos manteve os editos de tolerância feitos por um imperador anterior. Sua esposa e filha eram cristãs, assim como a maior parte dos oficiais e eunucos da sua corte.
Mas Diocleciano permitiu que dois de seus co-regentes o persuadissem a voltar-se contra os cristãos. Quatro editos foram emitidos em 303 e 304 a.D. “As igrejas cristãs deviam ser queimadas”, conta-nos Schaff, “todas as cópias da Bíblia deviam ser queimadas; todos os cristãos deviam ser privados de ofícios públicos e direitos civis; e, finalmente, todos, sem exceção, deviam sacrificar aos deuses sob pena de morte”. Um quinto edito foi emitido pelo co-regente Galério em 308, ordenando que todos os homens, com esposas, filhos e servos, deviam oferecer sacrifícios aos deuses, “e que todas as provisões nos mercados deviam ser aspergidas com vinho sacrificial”. Em conseqüência, os cristãos ou tinham de cometer apostasia ou morrer de fome. Afirma Schaff: “Todas as dores, que o ferro e o aço, o fogo e a espada, o cavalete e a cruz, as feras e homens ferozes poderiam infligir, foram empregados”(52) contra a igreja. Os executores ficavam cansados com todo o trabalho que tinham a fazer.
A sorte finalmente mudou na terrível batalha entre o paganismo e o Cristianismo em 311, quando Galério admitiu a derrota ao tentar trazer os cristãos de volta às religiões pagãs. Ele deu aos cristãos permissão para se reunirem, desde que não perturbassem a ordem do estado. Ele até solicitou que orassem ao seu Deus pela prosperidade do estado.
Algumas perseguições se seguiram sob alguns outros imperadores, mas o fogo estava quase extinto no antigo Império Romano. Em 313, Constantino, imperador no ocidente, emitiu o Edito de Milão, que se moveu da neutralidade hostil para a neutralidade amigável em relação aos cristãos. Ele declarou-se a si mesmo seguidor do Deus do Cristianismo. Em 324, tornou-se imperador de todo o mundo romano, e publicou um novo edito de tolerância que abrangeria todo o império.
OBSTÁCULOS INTERNOS
A igreja foi instituída para crescer, quantitativamente e, principalmente, qualitativamente. Quando isso não acontece é porque, primeiramente, há fatores internos que impedem esse crescimento. Digo interno porque fatores externos nunca foram obstáculos ao crescimento da igreja (cf. Mt 16:18). Um determinado líder perguntou a outro: “o que devo fazer para minha igreja crescer?”. O outro respondeu: “A pergunta está errada, o correto seria perguntar: “por que a igreja não está crescendo?”. A igreja é um organismo vivo, ela cresce por si só. Se ela não cresce, então, é porque está enferma. Um organismo enfermo, tende a definhar e pode até a morrer. Veja o que o apóstolo Paulo falou à igreja de Corinto: “Por causa disso há entre vós muitos fracos e doentes, e muitos que dormem” (1Co 11:30). O maior milagre na vida de uma pessoa é o novo nascimento. A falta do milagre do novo nascimento é a razão principal da existência de tantas igrejas locais raquíticas, anêmicas, nanicas, compostas de pessoas vazias, sem nenhuma experiência profunda com o Senhor. Sem o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo muitos igrejas estão caminhando de forma recreativa e festiva para o inferno. É lamentável!
O crescimento da igreja deve ser equilibrado: qualitativo e quantitativo. Mas, o que é mais importante para a Igreja, a quantidade ou a qualidade? Segundo Rick Warren este é, infelizmente, um mito bastante propagado quando se fala em crescimento de igreja. É como se a igreja tivesse de escolher entre quantidade e qualidade. Ele define: “Quantidade se refere ao tipo de discípulos que uma igreja produz; quantidade se refere ao número de discípulos que uma igreja está produzindo”. Toda igreja deve buscar o maior numero de pessoas possíveis e também desejar que essas pessoas se tornem crentes de qualidade. Qualidade produz quantidade e quantidade cria qualidade. A igreja em Jerusalém possuía qualidade e quantidade (cf. Atos 6:1-7). Crescer em qualidade de vida: em intimidade com Deus, na oração e em santidade e no caráter de Cristo. Crescer em quantidade: em número de pessoas salvas pelo sangue de Jesus.
Reflexões
Em sua obra chamada Apologia, o apologista latino Tertuliano fez o seguinte e atualmente famoso comentário: “Quanto mais somos mortos por vós, mais crescemos em número; o sangue dos cristãos é semente”. De qualquer maneira, o sofrimento de alguns cristãos estimulava outros a viverem mais fielmente. O apóstolo Paulo observou que “a maioria dos irmãos, confiando no Senhor por causa da minha prisão, têm mais coragem de falar a palavra de Deus sem temor” (Fp 1:14). Através de todas as terríveis perseguições dos primeiros séculos, a igreja continuou a crescer.
Estamos verdadeiramente preparados para sofrer pela nossa fé? Cremos realmente no que dizemos que cremos? Se a perseguição vier um dia, Deus nos concederá a fidelidade para permanecermos firmes. E não nos esqueçamos de orar e trabalhar em favor de nossos irmãos e irmãs que estão sofrendo pelo nome de Jesus Cristo.
FONTES DE PESQUISA
http://historiasacra.blogspot.com.br/2012/07/perseguicao-na-igreja-primitiva.html
http://luloure.blogspot.com.br/2013/02/quando-igreja-para-de-crescer_3749.html
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