Lição 07 - As Desigualdades Socioeconômicas


"Tu crês que há um só Deus? Fazes bem; também os demônios o creem e estremecem. (...) Porque assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem as obras é morta" - Tiago 2.19,26

Texto Bíblico Básico: Levítico 19.9,10; Êxodo 22.22,23; Lucas 14.13,14; 
Tiago 2.15,16


A DESIGUALDADE SOCIOECONÔMICA NO MUNDO


A desigualdade social no mundo tem chegado aos seus piores extremos. A nível global, os dados demonstram números preocupantes. O aumento na concentração das riquezas centralizadas em uma minoria revela o quanto a pobreza cresce no mundo. O assunto justiça social é tão atual quanto polêmico. É atual porque parece que a cada dia nosso país se distancia mais e mais de uma política social justa que visa atenuar os problemas dos mais desafortunados.É polêmico porque muitos insistem em achar que a igreja não deve se preocupar com isso, seu papel é somente adoração. É claro que a função primordial da igreja é cultuar a Deus, mas como veremos, adorar a Deus implica em fazermos o que ele manda. A primeira delas é sermos exemplos de justiça.Qual a razão de tamanha exploração e desigualdade? Como cristãos, teríamos uma resposta para esta questão, visto que fomos chamados para a prática da justiça e do bem comum?

A história mostra que as riquezas sempre estiveram nas mãos de uma minoria rica, e, que foi construída às custas dos pobres. Como podemos ver nos antigos impérios, nas cúpulas do sistema religioso, nos que se apropriaram de forma indevida das terras para explorar suas riquezas naturais dizimando os que primeiro chegaram, no comercio de escravos e mercadorias e mais tarde nas grandes indústrias por meio do trabalho semi-escravo com mão de obre barata. Eis uma pista para a primeira pergunta. A exploração, a ganância e a ausência de uma economia solidária são razões fortes para a causa da desigualdade social no mundo que afortuna de forma crescente uma minoria.

No mundo de hoje, as grandes indústrias produzem de forma acelerada com metas exorbitantes, sem levar em conta uma economia solidária que coopere para a sociedade. Neste caso,  buscar uma economia participativa, comunitária e justa, que não acumula em detrimento da exploração de mão de obra. Esta visão capitalista é mesquinha e insensível às pessoas. Tem sua  base no neoliberalismo que visa unicamente o lucro e o acumulo de riquezas.

A produção industrial tem como objetivo levar as pessoas a uma cultura de consumo a partir de um viés capitalista. René Padilla em seu “livro Missão Integral: O Reino de Deus e a Igreja” comenta:

“Os centros urbanos não somente servem como base de operação para as grandes indústrias: A própria existência delas depende de sistematização, da organização de toda a vida em função de produção e do consumo. Por isso a cidade, pouco a pouco, vai colocando todos os homens num molde que absolutiza as coisas porque são símbolos de status, um molde que não deixa lugar para questões relativas no sentido do trabalho nem ao propósito de vida. O atual sistema industrial está a serviço do capital e não do homem”. (PADILLA, 88p).

Como cristãos não podemos deixar de dar uma resposta à questão da desigualdade social que esmaga os pobres. Uma resposta consistente e a partir de um viés bíblico. O abismo que separa pobres e ricos de forma tão extrema tem como causa a ausência da justiça entre a humanidade. Não é por menos que a Bíblia está repleta de textos que abordam de forma enfática esta temática. São mais de três mil referências sobre justiça e pobreza em sua maioria com um tom de denúncia e indignação da parte de Deus.

Os profetas hebraicos exerceram um papel de grande relevância na denúncia contra as riquezas que geraram pobreza em sua época. Como porta voz de Deus, os profetas traziam uma mensagem de arrependimento direcionada aos poderosos da religião, da política e da economia admoestando-os sobre a prática da opressão aos mais fracos. Havia uma preocupação especial com órfãos, viúvas, pobres e estrangeiros. Este geralmente eram os que mais sofriam por causa da injustiça. (Pv.22.22; Jó.34.28; Sl.11.37; Sl.94.6; Dt.10.18; Ex.23.9; Mt.25.38).           

O acumulo de riquezas em detrimento da miséria do outro tem sua base na idolatria que por sua vez revela o “deus mamom” que se faz presente neste século. O mal está instalado nas grandes estruturas e não habita somente em uma dimensão pessoal. O mundo jazz no maligno e por isso há potestades dominadoras e opressora neste mundo presente. (Ef.6;12). 

Nas palavras de Jesus encontramos uma luz que nos faz entender na perspectiva do Evangelho a desigualdade social no mundo.  

"Ninguém pode servir a dois senhores; pois odiará a um e amará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro". (Mt. 6:24). A dedicação e o amor ao dinheiro levam os acumuladores de bens a buscar mais riquezas aumentando as estatísticas de uma desigualdade social extrema.

Ainda no sermão do Monte Jesus advertiu seus discípulos:

"Não acumulem para vocês tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem destroem, e onde os ladrões arrombam e furtam. Mas acumulem para vocês tesouros no céu, onde a traça e a ferrugem não destroem, e onde os ladrões não arrombam nem furtam. Pois onde estiver o seu tesouro, aí também estará o seu coração”. (Mat.6.19-21).
Todo tipo de exploração e opressão sempre vem de cima para baixo. Os poderosos detentores do poder, os acumuladores, os religiosos e os sistemas políticos, sociais e econômicos que atendem a uma minoria dominante e que exclui os que sofrem tem como fator motivador o amor ao dinheiro e o desejo de dominar por meio do poder. São os amantes de mamom.

Lamentavelmente uma parcela considerável dos evangélicos tem caminhado pelo viés da idolatria ao dinheiro contribuindo para o crescimento para uma desigualdade que gera miséria e pobreza. Líderes da religião que tem construído fortunas por meio da exploração da fé alheia, e o que é mais grave, acumulam estas riquezas em nome de Deus. Para estes mercadejastes da fé, ser prospero financeiramente equivale a ter fé em Deus ao passo que ser pobre, desqualifica o status de homem de Deus.

Dentro deste mesmo contexto de exploração, a idolatria de consumo que serve ao “deus mamom”, de forma gradativa tem se infiltrado no meio evangélico. Influenciados pelo neoliberalismo o que importa é ter, sem levar em conta a condição social e econômica dos outros. Ter sucesso nos negócios sem uma perspectiva comunitária, construir patrimônio para si mesmo, e consumir produtos para satisfazer seus desejos egoístas são algumas das marcas dos idólatras consumistas no contexto evangélico hoje.

Diante deste contexto de desigualdade, exploração e pobreza, como igreja os cristãos devem urgentemente levantar-se com voz profética. Não a voz da profecia dos “adivinhos do futuro”, mas a da denúncia contra o pecado da injustiça, da avareza, da idolatria e do consumismo egoísta. Lutar por políticas que busquem uma economia solidária que inclua os menos desfavorecidos e que não tenha como prioridade os grandes lucros e a exploração de mão de obra barata. Que possamos ouvir o Espírito de Deus e ao mesmo tempo o mundo com seus anseios, sofrimento e dor.      

OS PROFETAS QUE DENUNCIARAM A DESIGUALDADE SOCIAL DE SEU TEMPO

O período dos profetas no Antigo Testamento pode ilustrar muito bem a indignação de Deus em relação a injustiça social. Dentro do ideal divino, havia lugar para todos e o respeito a certas regras de organização e conduta, que manteria o povo, de certa forma tranquilo. O grande problema é que o profeta começou a perceber uma grande desigualdade. O problema não era a desigualdade em si mesma. O que levou os profetas a tocar na questão foi a imensa diferença de uma classe social e a outra. Se Deus estabeleceu leis aos pobres, viúvas, órfãos, escravos, estrangeiros, é porque Deus já sabia que haveria certas diferenças, mas há diferenças que são toleráveis e suportáveis, há certas diferenças que são naturais e até necessárias, o que não pode haver, e, era exatamente a denúncia profética, é a opressão, o roubo, a indiferença, o desejo de adquirir tirando o que pertence ao outro, subornando juízes, sacerdotes, falsos profetas, etc.. Agora veremos qual foi a palavra que o profeta trouxe da parte de Deus, neste tempo de opressão social:

A. Isaías. 
Clamou contra a injustiça, o suborno, a maldade e a opressão destruidora, contra o próximo. Ninguém tem direito de oprimir o outro. Isaías dizia que atos como aqueles eram ofensivos a Deus. Quem tinha condições comprava a justiça, portanto, os juízes eram corruptos, o poder legislativo e executivo se deixava vender; como poderia Deus tolerar semelhante coisa? (1:15-17,23; 5:8,23; 58:6,7).

B. Jeremias. 
Denunciou o enriquecimento ilícito e também a opressão contra: pobres, viúvas, órfãos; também percebeu que a ambição se assenhoreava dos homens, o profeta viu o rico comprando os tribunais, viu o perverso ser justificado e o justo condenado. O profeta clama, denuncia e diz que Deus o justo juiz irá castigar todo tipo de injustiça praticada pelo homem (5:26-29; 9:2-6; 22:13-17).

C. Amós. Não se amedrontou diante das autoridades, acusou-as de conivência com as injustiças, denunciou o pecado de participarem de um sistema de vida que destruía os mais fracos, os humildes e os pobres da terra. Enquanto o império se expandia pelas mãos de Jeroboão II, os camponeses tinham de pagar o exército, o luxo e a suntuosidade da vida palaciana. Uma desigualdade tão grande que causou repugnância aos olhos do profeta. Amós denunciou, trouxe a Palavra do Senhor, não podia calar-se, ao ver tanta riqueza conseguida como fruto da violência e da exploração (3:10). Falou diante das finas damas, não poupou se vocabulário, disse que elas eram “vacas de basã” (4:1). Devido a todos os abusos cometidos contra os mais fracos, Amós se convenceu, Deus irá tomar vingança, Deus não poupará nenhum no dia do juízo (4:2,3; 8:7-10).

D. Miquéias. 
Se levantou como a voz de Deus e clamou contra todos os abusos cometidos pelos detentores do poder. Ele sabia dos que passavam a noite planejando o mal, para colocar em prática à luz do dia (2:1,2). Ele denunciou aquilo que foi conquistado ilicitamente, às custas da mentira, da balança falsa e da opressão, quem se enche com o sangue dos outros será destruído por Deus (6:10-13). A liderança do país estava corrompida (7:3). Miquéias vê, analisa e revela a voz de Deus. Deus irá exercer vingança contra esta forma de vida corrupta. 

Apesar de serem citados apenas quatro profetas nesta sessão, o período de profecia sob a palavra deles é bastante longo. Desde 740 a.C. (Isaías) até 585 A.C. (Jeremias). Ou seja, 125 anos. Durante todo este tempo a mesma mensagem Deus enviava a seu povo por meio de diferentes profetas e o povo não se arrependeu.


O PAPEL DA IGREJA

Qual, então, é a visão cristã da justiça social? A Bíblia ensina que Deus é um Deus de justiça. De fato, "Deus é... justo e reto" (Deuteronômio 32:4). Além disso, a Bíblia sustenta a noção de justiça social na qual a preocupação e os cuidados são mostrados a favor dos pobres e aflitos (Deuteronômio 10:18, 24:17, 27:19). A Bíblia muitas vezes se refere ao órfão, à viúva e ao estrangeiro - ou seja, pessoas que não eram capazes de cuidar de si mesmas ou não tinham um sistema de apoio. A nação de Israel foi ordenada por Deus para cuidar dos menos afortunados da sociedade, e seu eventual fracasso de fazer isso foi em parte a razão para o seu julgamento e expulsão da terra.

Quando Jesus pregou o Sermão do Monte, Ele mencionou cuidar dos "pequeninos" (Mateus 25:40) e Tiago, em sua epístola, expõe a natureza da "verdadeira religião" (Tiago 1:27). Assim, se por "justiça social" queremos dizer que a sociedade tem a obrigação moral de cuidar dos menos afortunados, então isso é correto. Deus sabe que, devido à queda, haverá viúvas, órfãos e peregrinos na sociedade, e Ele fez provisões no antigo e novo testamento para cuidar deles. O modelo de tal comportamento é o próprio Jesus, o qual refletiu o senso de justiça de Deus ao levar a mensagem do evangelho até mesmo aos párias da sociedade.


O crente quando comete injustiças sociais vai contra tudo aquilo que crê. Por vezes é difícil resistir à tentação. Afinal, muitas pessoas inescrupulosas, enriquecem rapidamente, enquanto outros que temem a Deus ,vivem somente com o necessário. Será que vale a pena ser justo? Leia Malaquias 3.13-18 e responda você mesmo a esta pergunta.

No entanto, a noção cristã de justiça social é diferente da noção contemporânea de justiça social. As exortações bíblicas para cuidar dos pobres são mais individuais do que da sociedade como um todo. Em outras palavras, cada cristão é encorajado a fazer o que puder para ajudar o "menor destes." A base para tais mandamentos bíblicos encontra-se no segundo dos grandes mandamentos - amar ao próximo como a si mesmo (Mateus 22:39). 

Resumindo, há uma tensão entre uma abordagem da justiça social que é centrada em Deus e da que é centrada no homem. A abordagem centrada no homem vê o governo no papel de salvador, trazendo consigo uma utopia por meio de políticas governamentais. A abordagem centrada em Deus vê Cristo como Salvador, trazendo o céu para a terra quando Ele voltar. No Seu retorno, Cristo restaurará todas as coisas e executará a justiça perfeita. Até então, os cristãos expressam o amor e a justiça de Deus ao mostrar bondade e misericórdia para com os menos afortunados.

COMO A IGREJA PODE LIDAR COM A INJUSTIÇA SOCIAL?

Em primeiro lugar, não a praticando. Como vimos, se alguém diz adorar a Deus e mesmo assim comete um monte de injustiça, essa pessoa é hipócrita, diz uma coisa e faz outra. Se quisermos mudar o padrão do mundo, temos que apresentar um padrão diferente. Nada pode ser mais eficaz e causar tanto impacto quanto um exemplo diferente!

Em segundo lugar, a igreja e os crentes podem e deve tentar amenizar o problema que no Brasil é quase generalizado. Como isso pode ser feito?

Veja alguns exemplos de atuação da igreja na área de justiça social:

a. pressão política – cobrar do governo atitudes

b. desenvolver projetos de auxílio a comunidade local mais carente. (sopão, distribuição de roupas, cestas básicas...)

c. contribuir com a assistência social da sua congregação, com entrega de alimentos aos mais necessitados.

Através dos obreiros, departamentos internos ou de projetos especiais, você pode se engajar nessa lida também. 

Torne seu evangelho prático! 

FONTES DE PESQUISA


http://www.teologiaevida.com.br/2016/07/a-desigualdade-social-e-o-deus-da.html
http://www.gotquestions.org/Portugues/justica-social.html
http://revfernando.blogspot.com.br/2010/01/o-cristao-e-seu-papel-profetico-social.html

Comentários

  1. As desigualdades na história dos humanos desaparecem com a encarnação de Jesus Cristo, porquanto o Cristo de Deus não encarnou uma natureza humana, encarnou a natureza humana. Se Cristo estivesse lá e os humanos diversos estivessem cá, eu não estaria aqui agora escrevendo isso, eu simplesmente não existiria. O pensamento de Deus quanto aos humanos foi de uma mesma natureza e espírito e com o filho enviado a mesma substância. As desigualdades são como as doenças, são sequelas do pecado original, com um agravante que elas, as desigualdades, são produzidas pelo egoísmo dos homens.

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